Eduardo Coutinho (Brasil)
Cabra marcado pra morrer é um documentário brasileiro de 1984, dirigido por Eduardo Coutinho. Em novembro de 2015, o filme entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Sinopse
O filme é uma narrativa semi-documental da vida de João Pedro Teixeira, um líder camponês da Paraíba, assassinado em 1962.
Devido ao golpe militar, a filmagem foi interrompida em 1964. O engenho de Galiléia foi cercado por forças policiais. Parte da equipe foi presa sob a acusação de “comunismo”, e o restante se dispersou.
O trabalho foi retomado 17 anos depois, coletando depoimentos dos camponeses que trabalharam nas primeiras filmagens e também da viúva de João Pedro, Elizabeth Altino Teixeira, que desde dezembro de 1964 havia vivido na clandestinidade, separada de seus filhos. Assim, reconstruiu-se a história de João Pedro e das Ligas camponesas de Galiléia e de Sapé.
História da filmagem
Não foi a primeira vez que aconteceu. Mas é, no mínimo, muito especial quando a própria realização de um filme termina se convertendo em um novo roteiro, diferente do que estava programado e, de repente, diretor, atores, técnicos e fotógrafos passam a ser os personagens centrais de uma história tão dramática e humana como a dos personagens originais.
Em fevereiro de 1964, uma equipe de cinema do Centro Popular de Cultura da União Nacional de Estudantes, o famoso CPC da UNE, se instalou no engenho de Galiléia, em Pernambuco, para iniciar as filmagens de Cabra Marcado Pra Morrer, uma epopeia sobre a luta dos camponeses do Brasil pré-64.
O diretor do filme era Eduardo Coutinho, que naquele momento tinha 30 anos. O projeto era contar a vida de João Pedro Teixeira, importante líder das Ligas Camponesas da Paraíba, que lutava pela reforma agrária e por melhores condições de vida para os trabalhadores do campo e que havia sido assassinado em uma emboscada dois anos antes.
Elizabeth Teixeira, a viúva de João Pedro, interpretaria seu próprio papel. Os outros atores seriam escolhidos entre os habitantes do engenho. Mas em 1º de abril de 1964, o trabalho foi interrompido pelo golpe militar.
O exército invadiu Galiléia, ameaçou a população, prendeu os líderes camponeses e os membros da equipe de filmagem que não haviam conseguido escapar e confiscou todo o equipamento. Mas a maior parte do negativo filmado foi salva. Também sobraram oito fotografias de cena.
Após 17 anos, Eduardo Coutinho retornou a Galiléia aos 47 anos de idade para finalizar a produção do documentário. Sua missão foi de se encontrar com todos os camponeses que haviam trabalhado em Cabra Marcado Pra Morrer e traçar suas histórias desde aquele tempo até o presente. A aventura foi concluída com sucesso.
Entre os personagens mais marcantes reconstruídos por Coutinho, destaca-se Elizabeth Teixeira. Ela foi forçada a fugir, abandonando seus filhos e se escondendo na cidade de São Rafael (RN). Vivia há quase vinte anos na clandestinidade, sob o nome de Marta Maria da Costa. O reencontro de Coutinho com Elizabeth foi tenso, já que seu filho Abraão interferiu muito em seu testemunho. Ela parecia bastante assustada.