Roberto Gervitz e Sergio Toledo (Brasil)
Braços cruzados, máquinas paradas é um documentário dirigido por Roberto Gervitz e Sergio Toledo que aborda um tema importante na época de seu lançamento: a ascensão dos sindicatos de trabalhadores nos últimos anos da ditadura. O filme cobre três convenções e eleições de trabalhadores sindicalizados em indústrias automobilísticas em São Paulo durante os últimos anos do regime militar. Essas reuniões sindicais incitando greves foram as primeiras a acontecer desde o golpe militar de 1964, já que eram consideradas ilegais pelo governo federal.
O filme apresenta com grande detalhe os desafios enfrentados pelos trabalhadores, suas demandas por melhores salários e melhores condições de trabalho, já que na época eles eram explorados com muitos obstáculos e ambientes problemáticos onde tudo era exigido deles, mas pouco era dado em troca. Embora a mídia e a história se lembrem das greves do ABC, onde o então líder sindical e futuro presidente do Brasil, Lula, foi a principal figura e força da luta dos trabalhadores, este filme não aborda esses grandes eventos. Aqui, seguimos os eventos que aconteceram na capital do estado e em algumas áreas metropolitanas.
Desde o momento em que os trabalhadores acordam de manhã para começar o dia até as inúmeras palestras feitas pelos representantes sindicais e pelos próprios trabalhadores sobre o que precisa ser exigido, pelo que estão lutando e, mais tarde, somos apresentados aos três grupos políticos e as diferenças no que eles defendem, os riscos que podem enfrentar com seus chefes e a decisão final entre aceitar o acordo dos patrões (geralmente com pequenos aumentos salariais) ou decidir pela greve, parar tudo e ficar com os braços cruzados. Um momento memorável para mim (e acredito que tenha sido uma reconstituição) é quando todos os trabalhadores estão fazendo seus negócios, mas eles continuam olhando para o relógio na parede, esperando o momento exato em que chega às 10h para parar tudo. Naquela época, quando as greves não eram permitidas e organizar algo era realmente difícil porque sempre há alguém que não concorda com algo, provavelmente não vai parar ou terá medo de perder o emprego, não acreditando no poder dos sindicatos, já que eles não tinham muito poder na época… mas tudo mudou e começou com os movimentos a partir de 1978.
Um registro e documento importante de um período sombrio da história, o filme, enquanto apresenta muitos momentos interessantes sobre como a política pode afetar as pessoas quando elas pensam que não têm nada a ver com isso e como os movimentos sociais ajudaram a conscientizar sobre os direitos dos trabalhadores, é um filme bastante burocrático, sem grandes nomes como heróis – há milhares de líderes sindicais, mas não consegui reconhecer seus nomes nem lembrar se eles se tornaram figuras notáveis nos anos seguintes – e há muitas conversas políticas, incitação à greve que se torna cansativa após o segundo caso. O filme pode ser um pouco deprimente, exceto por alguns pequenos conflitos aqui e ali, onde uma briga quase acontece quando um dos líderes sindicais tinha panfletos em seu carro durante o dia de votação, o que era ilegal.
Em uma análise final, é um excelente documentário sobre os trabalhadores e os movimentos que pavimentaram o caminho para que cada vez mais trabalhadores tivessem suas vozes ouvidas e seus direitos garantidos, e suas lutas iniciais não foram em vão, mesmo que alguns quarenta anos depois, os poderes dos sindicatos tenham diminuído graças a manobras políticas realizadas pelos homens das empresas. A luta continua, e este filme é um importante registro de como as pessoas comuns podem se unir e lutar por mudanças significativas em suas vidas e comunidades.