À sombra te sentas das desnudas rochas (Rosalía de Castro)

À sombra te sentas das desnudas rochas,
e no canto te escondes onde zumbe o inseto,
e ali onde as águas estancadas cochilam
e não há irmãos seres que interrompam teus sonhos,
quem soubesse em que pensas, amor de meus amores,
quando com leve passo e contido alento,
tremendo a que percebas minha agitação extrema,
ali onde te escondes, ansiosa te surpreendo!

— Curiosidade maldita, frio ferrão que feres
as femininas almas, os varonis peitos!,
tua força impeli ao homem a que busque a profundidade
do desencanto amargo e a que remova o lodo
onde se formam sempre os odores infectados.

— Que hás dito de amargura e lodo e desencanto?
Ah! Não pronuncies frases, meu bem, que não compreendo;
Diz-me só em que pensas quando de mim te afastas
e fungindo dos homens vais buscando o silêncio.

— Penso em coisas tristes às vezes e tão negras,
e em outras tão estranhas e tão formosas penso,
que… não as saberás nunca, porque o que se ignora
não nos danifica se é mal, nem perturba se é bom.
Eu te o digo, menina, a quem deveras amo;
encerra a alma humana tão profundos mistérios,
Que quando a nossos olhos um véu os oculta
é temerário empreendimento retroceder esse véu;
não penses, pois, meu bem, não penses em que penso.

— Pensarei noite e dia, pois sem sabê-lo morro.

E conta o que soube, e que a matou então
a pena de sabê-lo.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

» Biografia de Rosalia de Castro

A la sombra te sientas de las desnudas rocas
Rosalía de Castro

A la sombra te sientas de las desnudas rocas,
y en el rincón te ocultas donde zumba el insecto,
y allí donde las aguas estancadas dormitan
y no hay hermanos seres que interrumpan tus sueños,
¡quién supiera en qué piensas, amor de mis amores,
cuando con leve paso y contenido aliento,
temblando a que percibas mi agitación extrema,
allí donde te escondes, ansiosa te sorprendo!

—¡Curiosidad maldita, frío aguijón que hieres
las femeninas almas, los varoniles pechos!,
tu fuerza impele al hombre a que busque la hondura
del desencanto amargo y a que remueva el cieno
donde se forman siempre los miasmas infectos.

—¿Qué has dicho de amargura y cieno y desencanto?
¡Ah! no pronuncies frases, mi bien, que no comprendo;
dime sólo en qué piensas cuando de mí te apartas
y huyendo de los hombres vas buscando el silencio.

—Pienso en cosas tan tristes a veces y tan negras,
y en otras tan extrañas y tan hermosas pienso,
que… no lo sabrás nunca, porque lo que se ignora
no nos daña si es malo, ni perturba si es bueno.
Yo te lo digo, niña, a quien de veras amo;
encierra el alma humana tan profundos misterios
que cuando a nuestros ojos un velo los oculta
es temeraria empresa descorrer ese velo;
no pienses, pues, bien mío, no pienses en qué pienso.

—Pensaré noche y día, pues sin saberlo muero.

Y cuenta que lo supo, y que la mató entonces
la pena de saberlo.

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