Distância (Luisa Anzoletti)

Veio outubro e o dia da partida.
Quantas lágrimas, ai de mim, que triste adeus!
Os afãs depois daquela longa ausência,
Pobre filha, só os sabe Deus. 
Quantos suspiros à luz das estrelas;
Quanto rezar de noite e de manhã:
Que de seu damo não tinha novidades,
Nunca lhe chegava uma cartinha sua.
Escondidamente, sem fazer palavras,
Se derretia como a neve ao sol.
Pálido o rosto e a pessoa cansada,
Se derretia como a neve branca.

(Tradução de Henrique Pina)

Lontananza
Luisa Anzoletti

Venne l’ottobre e il dì della partenza. 
Quante lacrime, oimè, che triste addio! 
Li affanni poi di quella lunga assenza, 
Povera figlia, non li sa che Dio.
Quanti sospiri al lume delle stelle; 
Quanto pregar la sera e la mattina: 
Che del suo damo non avea novelle, 
Mai l’arrivava una sua letterina. 
Nascostamente, senza far parole,
La si struggea come la neve al sole. 
Pallida il viso e la persona stanca,
La si struggea come la neve bianca.

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A serenata (Luisa Anzoletti)

— Ó montanhesa dos belos olhos negros,
Faça-me uma graça, fique um pouco a ouvir-me.
Estes que eu canto são os meus pensamentos,
E todos ainda não posso dizer. 
Faça-me uma graça, ó rosa gentil,
Não me desdenhe porque sou pobrezinho.
Para adornar-te como uma rainha
De ouro brilhante te darei o anel:
Para adornar-te com uma bela gema 
Deixarei o monte e irei para Maremma.
Deixarei o monte e irei para longe
Buscando o anelzinho para a tua mão. —

(Tradução Henrique Pina)

La serenata
Luisa Anzoletti

— O montanina da’ begli occhi neri,
Fammi una grazia, stammi un po’ a sentire. 
Questi ch’ io canto son li miei pensieri,
E tutti ancora non li posso dire.
Fammi una grazia, o rosa gentilina,
Non mi sdegnar perchè son poverello.
Per adornarti come una regina 
D’oro brillante ti darò l’anello:
Per adornarti d’una vaga gemma 
Lascerò il monte e me n’ andrò in Maremma. 
Lascerò il monte e me n’ andrò lontano 
Cercando l’anellin per la tua mano. —

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Versos simples XXVI (José Martí)

Eu que vivo, embora tenha morrido,
Sou um grande descobridor,
Porque ontem a noite descobri
A medicina doa amor

Quando ao peso da cruz
O homem resolve morrer,
Sai a fazer bem, o faz, e volta
como de um banho de luz.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Versos sencillos  XXVI
José Martí

Yo que vivo, aunque me he muerto,
Soy un gran descubridor,
Porque anoche he descubierto
La medicina de amor.

Cuando al peso de la cruz
El hombre morir resuelve,
Sale a hacer bien, lo hace, y vuelve
Como de un baño de luz.

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Soneto no amor (Meira Delmar)

Estou, amor, em ti e no dourado
desvelo de teu clima deleitoso,
com o ardido coração gozoso
de seu vivo tormento enamorado.

E te nomeio meu dia iluminado.
E te digo meu tempo jubiloso.
Alto mar de formosura sem repouso
acima do sonho levantado.

Estou, amor, em ti. Sob teu céu
distantemente meu, cresce a dor
e cresce o sorriso, docemente.

E o canto vai subindo, sustenido
por tua mão, flor de laranjeira desvanecida,
à margem do amanhecer transparente.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Soneto en el amor
Meira Delmar

Estoy, amor, en ti y en el dorado
desvelo de tu clima deleitoso,
con el ardido corazón gozoso
de su vivo tormento enamorado.

Y te nombro mi día iluminado.
Y te digo mi tiempo jubiloso.
Alto mar de hermosura sin reposo
a la cima del sueño levantado.

Estoy, amor, en ti. Bajo tu cielo
lejanamente mío, crece el duelo
y crece la sonrisa, dulcemente.

Y el canto va subiendo, sostenido
por tu mano, azahar desvanecido,
a la orilla del alba transparente.



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Versos simples XXIII (José Martí)

Eu quero sair do mundo
Pela porta natural:
Em uma carroça de folhas verdes
A morrer me hão de levar.

Não me coloquem no escuro
A morrer como um traidor:
Eu sou bom , e como bom
Morrerei de frente para o sol!

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Versos sencillos XXIII
José Martí

Yo quiero salir del mundo
Por la puerta natural:
En un carro de hojas verdes
A morir me han de llevar.

No me pongan en lo oscuro
A morir como un traidor:
Yo soy bueno, y como bueno
¡Moriré de cara al sol!

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Cavalinho (Mirta Aguirre)

Cavalinho sem crina,
cavalinho do mar,
diga-me se os golfinhos
podem chorar.

Diga-me se onde habitas,
habita o colibri;
diga-me se há sereinhas
de gergelim.

Diga-me se dão granadas
as hortas de coral;
diga-me se onde nadas
é doce o sal

Cavalinho brinquedo,
cavalinho arlequim,
por que vais sem ginete,
solitário mensageiro?

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Caballito
Mirta Aguirre

Caballito sin crines,
caballito de mar,
dime si los delfines
pueden llorar.

Dime si donde habitas,
habita el colibrí;
dime si hay sirenitas
de ajonjolí.

Dime si dan granadas
los huertos de coral;
dime si donde nadas
dulce es la sal.

Caballito juguete,
caballito arlequín,
¿por qué vas sin jinete,
soliandarín?

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Martí (Mirta Aguirre)

Ele nasceu no mês de janeiro
Ele morreu no mês de maio.
O derrubou do cavalo
O disparo de um fuzileiro.
Pegou a pena na mão
e contou contos em flor;
Não quis ser escritor,
Quis ser, antes, cubano.
Teve de pétalas a alma.
E o querer como um aço.
Foi grande: um homem sincero
De onde cresce a palmeira.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Martí
Mirta Aguirre

Él nació en el mes de enero
Él murió en el mes de mayo.
Lo desplomó del caballo
El disparo de un riflero.
Tomó la pluma en la mano
Y contó cuentos en flor;
No quiso ser escritor,
Quiso ser, antes, cubano.
Tuvo de pétalo el alma,
Y el querer como un acero.
Fue grande: un hombre sincero
De donde crece la palma.


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Versos simples – XVI (José Martí)

No peitoral calado
da janela mourisca,
Pálido como a lua,
Medita um enamorado.

Pálida, em seu canapé
de seda acinzentada e vermelha,
Eva, calada, despetala
Uma violeta no chá.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Versos sencillos XVI
José Martí

En el alféizar calado
De la ventana moruna,
Pálido como una luna,
Medita un enamorado.

Pálida en su canapé
De seda tórtola y roja,
Eva, callada, deshoja
Una violeta en el té.

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Versos simples – XXIX (José Martí)

A imagem do rei, por lei
Leva o papel do Estado:
O menino foi fuzilado
Pelos fuzis do rei.

Festejar o santo é lei
Do rei: e na festa santa
A irmã do menino canta
Diante da imagem do rei!

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Versos sencillos -XXIX
José Martí

La imagen del rey, por ley,
Lleva el papel del Estado:
El niño fue fusilado
Por los fusiles del rey.

Festejar el santo es ley
Del rey: y en la fiesta santa
¡La hermana del niño canta
Ante la imagen del rey!

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Gazela do amor com cem anos (Federico García Lorca)

Sobem pela rua
os quatro galãs.

Ai, ai, ai, ai.

Pela rua abaixo
vão os três galãs.

Ai, ai, ai.

Se apertam a cintura
esses dois galãs.

Ai, ai.

Como volta o rosto
um galã e o ar!

Ai.

Pelas murtas
não passeia ninguém.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Gacela del amor com cien años
Federico García Lorca

Suben por la calle
los cuatro galanes.

Ay, ay, ay, ay.

Por la calle abajo
van los tres galanes.

Ay, ay, ay.

Se ciñen el talle
esos dos galanes.

Ay, ay.

¡Cómo vuelve el rostro
un galán y el aire!

Ay.

Por los arrayanes
se pasea nadie.

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