Em direção a um saber sobre a alma (María Zambrano)

E assim fui ficando à margem.
Abandonada da palavra,
chorando interminavelmente como se do mar
subisse o pranto, sem mais sinal
de vida que o bater do coração e o palpitar
do tempo em minhas têmporas,
na indestrutível noite da vida.
Noite eu mesma.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Hacia un saber sobre el alma
María Zambrano

Y así me he ido quedando a la orilla.
Abandonada de la palabra,
llorando interminablemente como si del mar
subiera el llanto, sin más signo
de vida que el latir del corazón y el palpitar
del tiempo en mis sienes,
en la indestructible noche de la vida.
Noche yo misma.

Publicado em María Zambrano | Com a tag , , | Deixar um comentário

Da aurora (María Zambrano)

A noite, em uma de suas formas de plenitude
é a noite do sentido, quando o sentido
do que está à beira da morte,
ou sobre a morte como um mar único sustenido,
se produz, a salvadora noite do sentido
por desolada que seja. Porque então se sente,
ainda que seja palidamente, que a germinação
do que a cegueira e a mudez que a escuridão
sem mais traria, não é somente anúncio
senão começo e razão ao mesmo tempo.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

De la aurora
María Zambrano

La noche, en una de sus formas de plenitud
es la noche del sentido, cuando el sentido
del que está al filo de la muerte,
o sobre la muerte como un mar único sostenido,
se produce, la salvadora noche del sentido
por desolada que sea. Porque entonces se siente,
aunque sea palidamente, que la germinación
de lo que la ceguera y la mudez que la oscuridad
sin más traería, no es solamente anuncio
sino comienzo y razón al par

Publicado em María Zambrano | Com a tag , , | Deixar um comentário

Casida da rosa (Federico García Lorca)

A rosa
não buscava a aurora:
Quase eterna em seu ramo
buscava outra coisa.

A rosa
não buscava nem ciência nem sombra:
Confim de carne e sonho
buscava outra coisa.

A rosa
não buscava a rosa:
Imóvel pelo céu
buscava outra coisa!

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

 Obs: casidaComposição poética árabe ou persa, monorrima, de assunto quase sempre amoroso e com um número indeterminado de versos. (Fonte: Dicionário Estraviz)

Casida de la rosa
Federico García Lorca

La rosa
no buscaba la aurora:
Casi eterna en su ramo
buscaba otra cosa.

La rosa
no buscaba ni ciencia ni sombra:
Confín de carne y sueño
buscaba otra cosa.

La rosa
no buscaba la rosa:
Inmóvil por el cielo
¡buscaba otra cosa!

Publicado em Federico Garcia Lorca | Com a tag , , | Deixar um comentário

É verdade (Federico García Lorca)

Ai que trabalho me dá
querer-te como te quero!

Por teu amor me dói o ar,
o coração
e o chapéu.

Quem compraria a mim
esta tiara que tenho
e esta tristeza de fio
branco, para fazer lenços?

Ai que trabalho me dá
querer-te como te quero!

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Es verdad
Federico García Lorca

¡Ay qué trabajo me cuesta
quererte como te quiero!

Por tu amor me duele el aire,
el corazón
y el sombrero.

¿Quién me compraría a mí
este cintillo que tengo
y esta tristeza de hilo
blanco, para hacer pañuelos?

¡Ay qué trabajo me cuesta
quererte como te quiero!

Publicado em Federico Garcia Lorca | Com a tag , , | Deixar um comentário

Vinte poemas de amor e uma canção desesperada – IV (Pablo Neruda)

É a manhã cheia de tempestade
no coração do verão.

Como lenços brancos de adeus viajam as nuvens,
o vento as sacode com suas mãos viajantes.

Inumerável coração do vento
batendo sobre nosso silêncio enamorado.

Zumbindo entre as árvores, orquestral e divino,
como uma língua de guerras e de cantos.

Vento que leva em rápido roubo a folhagem
e desvia as flechas pulsantes dos pássaros.

Vento que a derruba em onda sem espuma
e substância sem peso, e fogos inclinados. 

Se rompe e se submerge seu volume de beijos
combatido na porta do vento do verão.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Veinte poemas de amor y una canción desesperada – IV
Pablo Neruda

Es la mañana llena de tempestad
en el corazón del verano.

Como pañuelos blancos de adiós viajan las nubes,
el viento las sacude con sus viajeras manos.

Innumerable corazón del viento
latiendo sobre nuestro silencio enamorado.

Zumbando entre los árboles, orquestal y divino,
como una lengua llena de guerras y de cantos.

Viento que lleva en rápido robo la hojarasca
y desvía las flechas latientes de los pájaros.

Viento que la derriba en ola sin espuma
y sustancia sin peso, y fuegos inclinados.

Se rompe y se sumerge su volumen de besos
combatido en la puerta del viento del verano.

Publicado em Pablo Neruda | Com a tag , , | Deixar um comentário

Ai! (Federico García Lorca)

O grito deixa no vento
uma sombra de cipreste.

(Deixe-me neste campo,
chorando)

Tudo se há quebrado no mundo
Não resta mais que o silêncio.

(Deixe-me neste campo,
chorando)

O horizonte sem luz
está desfalcado de fogueiras.

(Já lhes disse que me deixem
neste campo,
chorando)

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

 ¡Ay!
Federico García Lorca

El grito deja en el viento
una sombra de ciprés.

(Dejadme en este campo,
llorando).

Todo se ha roto en el mundo.
No queda más que el silencio.

(Dejadme en este campo,
llorando).

El horizonte sin luz
está mordido de hogueras.

(Ya os he dicho que me dejéis
en este campo,
llorando).

Publicado em Federico Garcia Lorca | Com a tag , , | Deixar um comentário

Silêncio! (Rosalía de Castro)

Silêncio!
A mão nervosa e palpitante o seio,
as névoas nos meus olhos condensadas,
com um mundo de dúvidas nos sentidos
e um mundo de tormentos nas entranhas,
sentindo como lutam
em sem igual batalha
imortais desejos que atormentam
e rancores que matam.
Molho no próprio sangue a dura pluma
rompendo a veia inchada,
e escrevo…, escrevo…, para quê? Voltai
ao mais fundo da alma, 
tempestuosas imagens!
Ide a morar com as mortas lembranças!
Que a mão trêmula no papel só escreva
palavras, e palavras, e palavras!
Da ideia, a forma imaculada e pura,
onde ficou velada?

(Tradução de Henrique Pina)

¡Silencio! 
Rosalía de Castro

¡Silencio!
A man nerviosa e palpitante o seo,
as niebras nos meus ollos condensadas,
con un mundo de dudas nos sentidos
i un mundo de tormentos nas entrañas,
sentindo cómo loitan
en sin igual batalla
inmortales deseios que atormentan
e rencores que matan.
Mollo na propia sangre a dura pruma
rompendo a vena inchada,
i escribo…, escribo…, ¿para qué? ¡Volvede
ó máis fondo da ialma,
tempestosas imaxes!
¡Ide a morar cas mortas relembranzas!
¡Que a man tembrosa no papel só escriba
palabras, e palabras, e palabras!
Da idea a forma inmaculada e pura
¿Dónde quedóu velada?

Publicado em Rosalía de Castro | Com a tag , , | Deixar um comentário

Sinais (Piedad Bonnett)

A lua brilha com esse furor cego
que é sinal inequívoco
de que há chegado o tempo fértil do sacrifício.
Cheira à pele rajada dos tigres,
a orquídea que se abre,
ao húmus que a chuva começa a escurecer.
Em um sonho de rios e serpentes
naufraga a jovem envolta em pranto
e seus seios novos se estremecem
com um tremor antes desconhecido.
A boneca que abraça tem os olhos mortos.
E o anjo da guarda
marca uma cruz com sangue sobre suas coxas brancas.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Señales
Piedad Bonnett

La luna brilla con ese furor ciego
que es señal inequívoca
de que ha llegado el tiempo fértil del sacrificio.
Huele a la piel rayada de los tigres,
a orquídea que se abre,
al humus que comienza a oscurecer la lluvia.
En un sueño de ríos y serpientes
naufraga la muchacha envuelta en llanto
y sus pechos recientes se estremecen
con un temblor antes desconocido.
La muñeca que abraza tiene los ojos muertos.
Y el ángel de la guarda
marca una cruz con sangre sobre sus muslos blancos.


 

Publicado em Piedad Bonnett | Com a tag , , | Deixar um comentário

Canção (Piedad Bonnett)

Nunca foi tão formosa a mentira
como em tua boca, em meio
a pequenas verdades banais
que eram todo
teu mundo que eu amava,
mentira desprendida
sem afãs, caindo
como chuva,
sobre a escura terra desolada.
Nunca tão doce foi a mentirosa
palavra enamorada apenas dita,
nem tão altos os sonhos
nem tão feroz
o fogo esplendoroso que semeava.
Nunca tampouco
tanta dor se amotinou de golpe
nem tão ferida esteve a esperança.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Canción 
Piedad Bonnett

Nunca fue tan hermosa la mentira
como en tu boca, en medio
de pequeñas verdades banales
que eran todo
tu mundo que yo amaba,
mentira desprendida
sin afanes, cayendo
como lluvia,
sobre la oscura tierra desolada.
Nunca tan dulce fue la mentirosa
palabra enamorada apenas dicha,
ni tan altos los sueños
ni tan fiero
el fuego esplendoroso que sembrara.
Nunca, tampoco,
tanto dolor se amotinó de golpe,
ni tan herida estuvo la esperanza.

Publicado em Piedad Bonnett | Com a tag , , | Deixar um comentário

Cristo negro (Eulalia Bernard)

Com as mãos
pregadas na sua testa
chora e ri
da dor que lhe causou
um simples não
do céu
que o deixou
sem pátria
que o deixou
sem terra
que o deixou
sem mãe
que o deixou
que o deixou…

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Cristo negro
Eulalia Bernard

Con las manos
clavadas en su frente
llora y ríe
del dolor que le causó
un simple no
del cielo
que lo dejó
sin patria
que lo dejó 
sin tierra
que lo dejó
sin madre
que lo dejó
que lo dejó…

Publicado em Eulalia Bernad | Com a tag , , , | Deixar um comentário