O pão nosso (César Vallejo)

Bebe-se o café da manhã…úmida terra
de cemitério cheira a sangue amado.
Cidade de inverno…A mordaz cruzada
de uma carreta que arrastar parece
uma emoção de jejum encadeada!

Quisera bater em todas as portas,
e perguntar por não sei quem, e logo
ver aos pobres, e, chorando quietos
dar pedacinhos de pão fresco a todos.
E saquear aos ricos seus vinhedos
com as duas mãos santas
que a um golpe de luz
voaram desencravadas da Cruz!

Pestana matinal, não vos levanteis!
O pão nosso de cada dia dá-nos,
Senhor…!

Todos os meus ossos são alheios
eu talvez os roubei!
Eu vim a dar-me o que acaso esteve
destinado para outro;
e penso que, se não houvesse nascido,
outro pobre tomasse este café!
Eu sou um mau ladrão…Aonde irei!

E nesta hora fria, em que a terra
transcende ao pó humano e é tão triste,
quisera eu bater em todas as portas,
e suplicar a não sei quem, perdão,
e fazer-lhe pedacinhos de pão fresco
aqui, no forno de meu coração…!

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

» Biografia de César Vallejo

El pan nuestro
César Vallejo

Se bebe el desayuno… Húmeda tierra
de cementerio huele a sangre amada.
Ciudad de invierno… La mordaz cruzada
de una carreta que arrastrar parece
una emoción de ayuno encadenada!

Se quisiera tocar todas las puertas,
y preguntar por no sé quién; y luego
ver a los pobres, y, llorando quedos,
dar pedacitos de pan fresco a todos.
Y saquear a los ricos sus viñedos
con las dos manos santas
que a un golpe de luz
volaron desclavadas de la Cruz!

Pestaña matinal, no os levantéis!
¡El pan nuestro de cada día dánoslo,
Señor…!

Todos mis huesos son ajenos;
yo talvez los robé!
Yo vine a darme lo que acaso estuvo
asignado para otro;
y pienso que, si no hubiera nacido,
otro pobre tomara este café!
Yo soy un mal ladrón… A dónde iré!

Y en esta hora fría, en que la tierra
trasciende a polvo humano y es tan triste,
quisiera yo tocar todas las puertas,
y suplicar a no sé quién, perdón,
y hacerle pedacitos de pan fresco
aquí, en el horno de mi corazón…!

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