Havemos amado juntos tantas coisas
que é difícil amá-las separados.
Parece que se houveram afastado de repente
ou que o amor fora uma formiga
escalando os declives do céu.
Havemos vivido juntos tanto abismo
que sem você tudo parece superfície,
órbita de simulacros que resvalam,
tensão sem extensões,
vigilância de corpos sem presença.
Havemos andado tanto sem nos movermos
que as viagens se desprendem
como abrigos inúteis.
Movimento e quietude se hão desunido
como graus de duas temperaturas.
Havemos perdido juntos tanto nada
que o hábito persiste e se dá volta
e agora tudo é ganância de nada.
O Tempo se converte em anti-tempo
porque já não o pensas.
Havemos calado e falado juntos
que até calar e falar são duas traições,
duas substâncias sem justificação,
dois substitutos.
O havemos buscado tudo.
O havemos falado tudo.
O havemos deixado tudo.
Unicamente não nos deram tempo
para encontrar o buraco de tua morte
ainda que fora também para deixá-lo.
(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)
Poema dedicado a Antonio Porchia
Roberto JuarrozHemos amado juntos tantas cosas
que es difícil amarlas separados.
Parece que se hubieran alejado de pronto
o que el amor fuera una hormiga
escalando los declives del cielo.Hemos vivido juntos tanto abismo
que sin ti todo parece superficie,
órbita de simulacros que resbalan,
tensión sin extensiones,
vigilancia de cuerpos sin presencia.Hemos andado tanto sin movernos
que los viajes ahora se descuelgan
como abrigos inútiles.
Movimiento y quietud se han desunido
como grados de dos temperaturas.Hemos perdido juntos tanta nada
que el habito persiste y se da vuelta
y ahora todo es ganancia de la nada.
El tiempo se convierte en antitiempo
porque ya no lo piensas.Hemos callado y hablado tanto juntos
que hasta callar y hablar son dos traiciones,
dos sustancias sin justificación,
dos substitutos.Lo hemos buscado todo,
lo hemos hallado todo,
lo hemos dejado todo.Únicamente no nos dieron tiempo
para encontrar el ojo de tu muerte,
aunque fuera también para dejarlo.