Solidão frente ao mar (Miguel Ángel Asturias)

Falo de solidão e se desperta
dentro de mim o coração que é só,
pois todo coração sempre está só
nesta solidão de onda após onda…

Falo de amor e surge, caracol
do mar, meu companheiro em solidões;
os amores são grandes solidões
e junto a mim e frente ao mar, que sós.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Soledad frente al mar
Miguel Ángel Asturias

Hablo de soledad y se acorola
dentro de mí el corazón que es solo,
pues todo corazón siempre está solo
en esta soledad de ola tras ola…

Hablo de amor y surge, caracola
del mar, mi compañera en soledades;
los amores son grandes soledades
y junto a mí y frente al mar, qué solos.

Publicado em Miguel Angel Astúrias | Com a tag , , | Deixar um comentário

Madrigal (Miguel Ángel Asturias)

Nada foi…
Nada existe…

Albergue sem estrela e sem caminho
onde começa a noite.  Onde começa?
Porque a noite começa no destino
e a morte começa no esquecimento

Nada foi…
Nada existe…

Seguro de minha voz que já não canta
Desperto na amargura da aurora
Para buscar teu nome em minha garganta
E já não posso pronunciá-lo agora.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Madrigal
Miguel Ángel Asturias

Nada ha sido…
Nada existe…

Albergue sin estrella y sin camino
donde empieza la noche… ¿Dónde empieza?
Porque la noche empieza en el destino
y la muerte comienza en el olvido.

Nada ha sido…
Nada existe…

Seguro de mi voz que ya no canta,
despierto en la amargura de la aurora
para buscar tu nombre en mi garganta
y ya no puedo pronunciarlo ahora.

Publicado em Miguel Angel Astúrias | Com a tag , , | Deixar um comentário

Em Aranjuez com teu amor (Alfredo García Segura)

Aranjuez,
Um lugar de sonhos e de amor
Onde um rumor de fontes
de cristal
No jardim parece falar
Em voz baixa às rosas.

Aranjuez,
Hoje as folhas secas sem cor
Que varre o vento
São recordações do romance
Que uma vez
Juntos começamos você e eu
E sem razão esquecemos
Talvez esse amor escondido esteja
Em um entardecer
Na brisa ou na flor
Esperando teu regresso.

Aranjuez,
Hoje as folhas secas sem cor
Que varre o vento
São recordações do romance
Que uma vez
Juntos começamos você e eu
E sem razão esquecemos
Em Aranjuez, amor
Você e eu.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

En Aranjuez com tu amor
Alfreddo García Segura

Aranjuez,
Un lugar de ensueños y de amor
Donde un rumor de fuentes
de cristal
En el jardin parece hablar
En voz baja a las rosas

Aranjuez,
Hoy las hojas secas sin color
Que barre el viento
Son recuerdos del romance
Que una vez
Juntos empezamos tu y yo
Y sin razón olvidamos
Quizá ese amor escondido esté
En un atardecer
En la brisa o en la flor
Esperando tu regreso

Aranjuez,
Hoy las hojas secas sin color
Que barre el viento
Son recuerdos del romace
Que una vez
Juntos empezamos tu y yo
Y sin razón olvidamos
En Aranjuez, amor
Tu y yo

 

José Carreras – En Aranjuez con tu amor (The Angel Orchestra of London com regência de Michael Reed)

Publicado em Alfredo García Segura | Com a tag , , , | 4 comentários

Poema de amor (Joan Manuel Serrat)

O sol nos esqueceu ontem sobre a areia,
nos envolveu o rumor suave do mar,
teu corpo me deu calor,
tinha frio,
e ali na areia,
entre os dois nasceu este poema,
este pobre poema de amor
para ti

Meu fruto, minha flor,
minha história de amor,
minhas carícias

Meu humilde candeeiro,
minha chuva de abril,
minha avareza

Meu pedaço de pão,
meu velho refrão,
meu poeta

A fé que perdi,
meu caminho
e minha carreta

Meu doce prazer,
meu sonho de ontem,
minha bagagem

Meu morno canto,
Minha melhor canção,
minha paisagem

Meu manancial,
meu canavial,
minha riqueza

Minha lenha, minha lareira,
meu teto, meu lar,
minha nobreza

Minha fonte, minha sede,
meu barco, minha rede
e a areia

Onde te senti
onde te escrevi
meu poema

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Poema de amor
Joan Manuel Serrat

El sol nos olvidó ayer sobre la arena,
nos envolvió el rumor suave del mar,
tu cuerpo me dio calor,
tenía frío
y, allí, en la arena, entre los dos nació este poema,
este pobre poema de amor
para ti

Mi fruto, mi flor,
mi historia de amor,
mi caricias.

Mi humilde candil,
mi lluvia de abril,
mi avaricia.

Mi trozo de pan,
mi viejo refrán,
mi poeta.

La fe que perdí,
mi camino
y mi carreta.

Mi dulce placer,
mi sueño de ayer,
mi equipaje.

Mi tibio rincón,
mi mejor canción,
mi paisaje.

Mi manantial,
mi cañaveral,
mi riqueza.

Mi leña, mi hogar,
mi techo, mi lar,
mi nobleza.

Mi fuente, mi sed,
mi barco, mi red
y la arena.

Donde te sentí,
donde te escribí
mi poema…

Joan Manuel Serrat – Poema de Amor (ao vivo – TVE – 1968)

Publicado em Joan Manuel Serrat | Com a tag , , , | Deixar um comentário

Digamos (Mario Benedetti)

1.
Ontem foi “yesterday”
para bons colonos
mas por fortuna nossa
amanhã não é “tomorrow”

2.
Tenho um amanhã que é meu
e um amanhã que é de todos
o meu acaba amanhã
porém sobrevive o outro

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

» Biografia de Mário Benedetti

Digamos
Mario Benedetti

1.
Ayer fue yesterday
para buenos colonos
mas por fortuna nuestro
mañana no es tomorrow
2.
Tengo un mañana que es mío
y un mañana que es de todos
el mío acaba mañana
pero sobrevive el otro

Mario Benedetti declama seu poema Digamos
Publicado em Mario Benedetti | Com a tag , , , | 1 comentário

Alfonsina e o mar (Felix Luna)

Pela branda areia
Que toca o mar
Sua pequena pegada
Não volta mais
Um caminho só
De pena e silêncio chegou
Até a água profunda
Um caminho só
De penas mudas chegou
Até a espuma.

Sabe Deus que angústia
Te acompanhou
Que dores velhas
Calou tua voz
Para deitar-te
Sussurrada no canto
Das conchas marinhas
A canção que canta
No fundo escuro do mar
A concha.

Te vais Alfonsina
Com tua solidão
Que poemas novos
Foste a buscar?
Uma voz antiga
De vento e de sal
Te adula a alma
E a está levando
E te vais até lá
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar

Cinco sereinhas
Te levarão
Por caminhos de algas
E de coral
E fosforescentes
Cavalos marinhos farão
Uma ronda ao teu lado
E os habitantes
Da água vão a brincar
Prontamente a teu lado.

Baixa-me a lâmpada
Um pouco mais
Deixa-me que durma
Ama-de-leite, em paz
E se ele chama
Não lhe digas que estou
Diz-lhe que Alfonsina não volta
E se ele chama
Não lhe digas nunca que estou
Diz que me fui.

Te vais Alfonsina
Com tua solidão
Que poemas novos
Foste a buscar?
Uma voz antiga
De vento e de sal
Te adula a alma
E a está levando
E te vais até lá
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Alfonsina y el mar
Felix Luna

Por la blanda arena
Que lame el mar
Su pequeña huella
No vuelve más
Un sendero solo
De pena y silencio llegó
Hasta el agua profunda
Un sendero solo
De penas mudas llegó
Hasta la espuma.

Sabe Dios qué angustia
Te acompañó
Qué dolores viejos
Calló tu voz
Para recostarte
Arrullada en el canto
De las caracolas marinas
La canción que canta
En el fondo oscuro del mar
La caracola.

Te vas Alfonsina
Con tu soledad
¿Qué poemas nuevos
Fuíste a buscar?
Una voz antigüa
De viento y de sal
Te requiebra el alma
Y la está llevando
Y te vas hacia allá
Como en sueños
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar.

Cinco sirenitas
Te llevarán
Por caminos de algas
Y de coral
Y fosforescentes
Caballos marinos harán
Una ronda a tu lado
Y los habitantes
Del agua van a jugar
Pronto a tu lado.

Bájame la lámpara
Un poco más
Déjame que duerma
Nodriza, en paz
Y si llama él
No le digas que estoy
Dile que Alfonsina no vuelve
Y si llama él
No le digas nunca que estoy
Di que me he ido.

Te vas Alfonsina
Con tu soledad
¿Qué poemas nuevos
Fueste a buscar?
Una voz antigua
De viento y de sal
Te requiebra el alma
Y la está llevando
Y te vas hacia allá
Como en sueños
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar.

Mercedes Sosa – Alfonsina y el mar (ao vivo)
Publicado em Felix Luna | Com a tag , , , | Deixar um comentário

Volta a teus deuses profundos (Eugenio Montejo)

Volta a teus deuses profundos;
estão intactos,
estão ao fundo com suas chamas esperando;
nenhum sopro do tempo as apaga.
Os silenciosos deuses práticos
ocultos na porosidade das coisas.
Hás rodado no mundo mais que nenhum calhau;
perdeste teu nome, tua cidade,
assíduo a visões fragmentárias;
de tantas horas que reténs?
A música de ser é destoante
porém a vida continua
e certos acordes prevalecem.
A terra é redonda por desejo
de tanto gravitar;
a terra arredondará todas as coisas
cada uma a seu término.
De tantas viagens pelo mar
de tantas noites ao pé de tua lâmpada,
só estas vozes te circundam;
decifra nelas o eco de teus deuses;
estão intactos,
estão cruzando mudos com seus olhos de peixes
ao fundo de teu sangue.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Vuelve a tus dioses profundos
Eugenio Montejo

Vuelve a tus dioses profundos;
están intactos,
están al fondo con sus llamas esperando;
ningún soplo del tiempo las apaga.
Los silenciosos dioses prácticos
ocultos en la porosidad de las cosas.
Has rodado en el mundo más que ningún guijarro;
perdiste tu nombre, tu ciudad,
asido a visiones fragmentarias;
de tantas horas ¿qué retienes?
La música de ser es disonante
pero la vida continúa
y ciertos acordes prevalecen.
La tierra es redonda por deseo
de tanto gravitar;
la tierra redondeará todas las cosas
cada una a su término.
De tantos viajes por el mar
de tantas noches al pie de tu lámpara,
sólo estas voces te circundan;
descifra en ellas el eco de tus dioses;
están intactos,
están cruzando mudos con sus ojos de peces
al fondo de tu sangre.

Publicado em Eugenio Montejo | Com a tag , , | Deixar um comentário

Minha menina se foi ao mar (Federico Garcia Lorca)

Minha menina se foi ao mar
a contar ondas e pedrinhas,
porém se encontrou, de pronto,
com o rio de Sevilha.
Entre adelfas e sinos
cinco barcos se mexiam,
com os remos na água
e as velas na brisa.
Quem olha de dentro da torre
adornada de Sevilha?
Cinco vozes contestavam
redondas como anéis.
O céu monta elegante
ao rio, de margem a margem.
No ar cor-de-rosa,
cinco anéis se mexiam.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

» Biografia de Federico Garcia Lorca

Mi niña se fue a la mar
Federico García Lorca

Mi niña se fue a la mar,
a contar olas y chinas,
pero se encontró, de pronto,
con el río de Sevilla.
Entre adelfas y campanas
cinco barcos se mecían,
con los remos en el agua
y las velas en la brisa.
¿Quién mira dentro la torre
enjaezada, de Sevilla?
Cinco voces contestaban
redondas como sortijas.
El cielo monta gallardo
al río, de orilla a orilla.
En el aire sonrosado,
cinco anillos se mecían.

Publicado em Federico Garcia Lorca | Com a tag , , | 1 comentário

Todos os dias te descubro… (Octavio Paz)

Segundo um poema de Fernando Pessoa

Todos os dias descubro
A espantosa realidade das coisas:
Cada coisa é o que é.
Que difícil é dizer isto e dizer
Quanto me alegra e como me basta
Para ser completo existir é suficiente.

Tenho escrito muitos poemas.
Claro, hei de escrever outros mais.
Cada poema meu diz o mesmo,
Cada poema meu é diferente,
Cada coisa é uma maneira distinta de dizer o mesmo.

Às vezes olho uma pedra.
Não penso que ela sente
Não me empenho em chamá-la irmã.
Gosto porque não sente,
Gosto porque não tem parentesco comigo.
Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena haver nascido
Só por ouvir passar o vento.

Não sei que pensarão os outros ao lerem isto
Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço;
O penso sem pensar que outros me ouvem pensar,
O penso sem pensamento,
O digo como o dizem minhas palavras.

Uma vez me chamaram poeta materialista.
E eu me surpreendi: nunca havia pensado
Que pudessem me dar este ou aquele nome.
Nem sequer sou poeta: vejo.
Se vale o que escrevo, não é valor meu.
O valor está aí, em meus versos.
Tudo isto é absolutamente independente de minha vontade.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

» Biografia de Octavio Paz

Todos los días descubro…
Octavio Paz

Según un poema de Fernando Pessoa

Todos los días descubro
La espantosa realidad de las cosas:
Cada cosa es lo que es.
Que difícil es decir esto y decir
Cuánto me alegra y como me basta.
Para ser completo existir es suficiente.

He escrito muchos poemas.
Claro, he de escribir otros más.
Cada poema mío dice lo mismo,
Cada poema mío es diferente,
Cada cosa es una manera distinta de decir lo mismo.

A veces miro una piedra.
No pienso que ella siente,
No me empeño en llamarla hermana.
Me gusta por ser piedra,
Me gusta porque no siente,
Me gusta porque no tiene parentesco conmigo.

Otras veces oigo pasar el viento:
Vale la pena haber nacido
Sólo por oír pasar el viento.

No sé qué pensarán los otros al leer esto
Creo que ha de ser bueno porque lo pienso sin esfuerzo;
Lo pienso sin pensar que otros me oyen pensar,
Lo pienso sin pensamientos,
Lo digo como lo dicen mis palabras.

Una vez me llamaron poeta materialista.
Y yo me sorprendí: nunca había pensado
Que pudiesen darme este o aquel nombre.
Ni siquiera soy poeta: veo.
Si vale lo que escribo, no es valer mío.
El valer está ahí, en mis versos.
Todo esto es absolutamente independiente de mi voluntad.

Publicado em Octavio Paz | Com a tag , , | 1 comentário

Insônia (Rafael Diaz Icaza)

Sou náufrago, mãe, e te chamo na noite,
desolado, no firme marchar para a morte,
e de golpe me assalta a ternura infinita
dos primeiros anos. E necessito saber que te achas
perto, que a tua lâmpada vela, pontual, perto de mim.

Necessito de teu copo para a má sombra dos pesadelos,
teu apoio de nogueira para o descanso dos sonhos
absurdos teu desencantado sorriso e tuas mãos sobre meus cabelos.
Desolado, desde a má noite, quebro meus punhos em portas infinitas
e chamo, e ninguém me abre.
Mãe: me dê a chave de tuas despensas,
sou um homem perdido baixo a chuva cinza:
Ascende o fósforo mais tênue para que eu caminhe

Atravessam a sombra, desde os pórticos da alvorada,
a noiva e seu lenço de açafrão e pérola,
a querida com seus beijos impuros,
todas as esperanças e todos os fracassos,
todos os malabares e os equilíbrios na corda bamba

Volta o homem, desde sua maturidade do seu poderio,
até a comarca em que chorava só baixo a noite imensa,
e voltam a soltar-se os mastins e a derramar-se o vinho dos odres,
e a assinalar com os índices à criança desvalida:
“Vejam aqui ao que come pães do lamento e a angústia.”

Mãe: um escuro terror, uma certa sensação de culpa
há neste homem cego que empunha as aldravas
das casas sem donos, em seus erros na noite.

(Tradução de Héctor Zanetti)

Insomnio
Rafael Diaz Icaza

Soy el náufrago, madre, y te llamo en la noche,
desolado, en el firme marchar hacia la muerte,
y de golpe me asalta la ternura infinita
de los primeros años. Y necesito saber que te hallas
cerca, que tu lámpara vela, puntual, cerca de mi.

Necesito tu vaso para la mala sombra de las pesadillas,
tu báculo de nogal para el descenso de los sueños
absurdos tu desencantada sonrisa y tus manos sobre mis cabellos.
Desolado, desde la mala noche, rompo mis puños en puertas infinitas
y llamo, y nadie me abre.
Madre: dame la llave de tus alacenas,
soy un hombre perdido bajo la lluvia gris:
enciende la cerilla más tenue para que yo camine

Atraviesan la sombra, desde los pórticos del alba,
la novia y su pañuelo de azafrán y nácar,
la querida con sus besos impuros,
todas las esperanzas y todos los fracasos,
todos los malabares y los equilibrios en la cuerda floja.

Vuelve el hombre, desde su madurez de su poderío,
hasta la comarca en que lloraba solo bajo la noche inmensa,
y vuelven a soltarse los mastines y a derramarse el vino de los odres,
y a señalar con los índices al niño desvalido:
“He aquí al que come los panes del lamento y la angustia.”

Madre: un oscuro terror, una cierta sensación de culpa
hay en este hombre ciego que empuña las aldabas
de las casas sin dueño, en su erranza en la Noche.

Publicado em Rafael Diaz Icaza | Com a tag , , | Deixar um comentário