Inútil sou (Alfonsina Storni)

Por seguir das coisas o compasso,
às vezes, quis neste século ativo,
pensar, lutar, viver com o que vivo,
ser no mundo algum parafuso a mais.

Mas, atada ao sonho sedutor,
do meu instinto voltei ao escuro poço,
pois, como algum inseto preguiçoso
e voraz, eu nasci para o amor.

Inútil sou, pesada, torpe, lenta,
meu corpo, ao sol estendido, se alimenta
e só vivo bem no verão,

quando a selva cheira e a enroscada
serpente dorme em terra calcinada;
a fruta se abaixa até minha mão.

(Tradução de Héctor Zanetti)

» Biografia de Alfonsina Storni

Inútil soy
Alfonsina Storni

Por seguir de las cosas el compás,
A veces quise, em este siglo activo,
Pensar, luchar, vivir com lo que vivo,
Ser em el mundo algún tornillo más.

Pero, atada al ensueño seductor,
De mi instinto volvi al oscuro pozo,
Pues, como algún insecto perezoso
Y voraz, yo nací para el amor.

Inútil soy, pesada, torpe, lenta.
Mi cuerpo, al sol, tendido, se alimenta
Y solo vivo bien em el verano,

Cuando La selva huele y la enroscada
Serpiente duerme em tierra calcinada;
Y la fruta se baja hasta mi mano.

Publicado em Alfonsina Storni | Com a tag , , | Deixar um comentário

Quando cheguei à vida (Alfonsina Storni)

Vela sobre minha vida, meu grande amor imenso.
Quando cheguei à vida trazia em suspense,
na alma e na carne, a loucura inimiga,
o capricho elegante e o desejo que açoita.

Encantavam-me as viagens pelas almas humanas,
a luz, os estrangeiros, as abelhas leves,
o ócio, as palavras que iniciam o idílio,
os corpos harmoniosos, os versos de Virgílio.

Quando sobre teu peito minha alma foi tranqüilizada,
e a doce criatura, tua e minha, desejada,
eu pus entre tuas mãos toda minha fantasia

e te disse humilhada por estes pensamentos:
-Vigiai-me os olhos! Quando mudam os ventos
a alma feminina se transtorna e varia…

(Tradução de Héctor Zanetti)

» Biografia de Alfonsina Storni

Cuando llegué a la vida…
Alfonsina Storni

Vela sobre mi, mi grave amor inmenso:
Cuando llegué a la vida yo traía en suspenso,
En el alma y la carne, la locura enemiga
El capricho elegante y el deseo que hostiga.

Me encantaban los viajes por las almas humanas,
La luz, los etranjeros, las abeja livianas,
El ocio, las palabras que unucuan el idilio
Los cuerpos armoniosos, los versos de Virgilio.

Cuando sobre tu pecho mi alma fue apaciguada,
Y la dulce criatura, tuya y mía, deseada,
Yo puse entre tus maos toda mi fantasía

Y te dije humillada por estos pensamientos:
-iVigílame los ojos! Cuando cambian los vientos
El alma femenina se trastorna y varía…

Publicado em Alfonsina Storni | Com a tag , , | 1 comentário

Sabeis algo? (Alfonsina Storni)

Subi, subi, subi. Já estava bem em cima
quando senti um murmúrio. Era desafio, diatribe?
Escutei: gargalhadas, ironias, insultos.
O que vos pareço uma símia? Oh meus bons estultos.
Sabeis de coisas belas?
Eu, fazem séculos que vivo trança que trança estrelas.

(Tradução de Héctor Zanetti)

» Biografia de Alfonsina Storni

¿Sabéis algo?
Alfonsina Storni

Subí, subí, subí. Ya estaba bien arriba
Cuando sentí un murmullo. ¿Era reto, diatriba?
Escuché: carcajadas, ironías, insultos.
¿Que os parezco una simia? Oh mis buenos estultos.
Sabéis de cosas belas?
Yo hace que vivo trenza que trenza estrellas.

Publicado em Alfonsina Storni | Com a tag , , | Deixar um comentário

Dorme tranquilo (Alfonsina Storni)

Falaste a palavra que enamora
meus ouvidos. Já esqueceste? Bom.
Dorme tranquilo, deve estar sereno
e charmoso o teu rosto a toda hora.

Quando encanta a boca sedutora
deve ser fresca, seu dizer ameno;
Para teu ofício de amante não é bom
o rosto ardido de quem muito chora.

Reclamam-te destinos mais gloriosos
que o de levar, entre os negros poços
das olheiras, o olhar em duelo.

Cobre de belas vítimas o solo!
Mais dano ao mundo fez a espada fátua
de algum bárbaro rei e tem estátua.

(Tradução de Héctor Zanetti)

» Biografia de Alfonsina Storni

Duerme Tranqüilo
Alfonsina Storni

Dijiste la palabra que enamora
a mis oídos. Ya olvidaste. Bueno.
Duerme tranquilo. Debe estar sereno
y hermoso el rostro tuyo a toda hora.

Cuando encanta la boca seductora
debe ser fresca, su decir ameno;
para tu oficio de amador no es bueno
el rostro ardido del que mucho llora.

Te reclaman destinos más gloriosos
que el de llevar, entre los negros pozos
de las ojeras, la mirada en duelo.

¡Cubre de bellas víctimas el suelo!
Más daño al mundo hizo la espada fatua
de algún bárbaro rey y tiene estatua.

Publicado em Alfonsina Storni | Com a tag , , | Deixar um comentário

Palavras a um habitante de Marte (Alfonsina Storni)

Será verdade que existes sobre o vermelho planeta,
que, como eu, possuis finas mãos prêensíveis,
boca para o riso, coração de poeta,
e uma alma administrada pelos nervos sutis?

Mas no teu mundo, acaso, se erguem as cidades
como sepulcros tristes? As assolou a espada?
Já tudo tem sido dito? Com o teu planeta acrescentas
à vasta harmonia outra taça vazia?

Se fores como um terrestre, que poderia importar-me
que o teu sinal de vida desça a visitar-me?
Busco uma estirpe nova através da altura.

Corpos bonitos, donos do segredo celeste
da alegria achada. Mas se o teu não é este,
se tudo se repete, cala triste criatura!

(Tradução de Héctor Zanetti)

» Biografia de Alfonsina Storni

Palabras a um habitante de marte
Alfonsina Storni

¿Será verdad que existes sobre el rojo planeta,
que , como yo, posees finas manos prensiles,
boca para la risa, corazón de poeta,
y un alma administrada por los nervios sutiles?

Pero en tu mundo, acaso, ¿se yerguen las ciudades
Como sepulcros tristes? ¿Las asoló la espada?
¿Ya todo ha sido dicho? ¿Con tu planeta añades
a la vasta armonía otra copa vaciada?

Si eres como un terrestre, ¿qué podría importarme
Que tu señal de vida bajara a visitarme?
Busco una estirpe nueva a través de la altura.

Cuerpos hermosos, dueños del secreto celeste
De la dicha lograda. Mas si el tuyo no es éste,
Si todo se repite, ¡calla, triste criatura!

Publicado em Alfonsina Storni | Com a tag , , | Deixar um comentário

Homem pequenino (Alfonsina Storni)

Homem pequenino, homem pequenino,
solta teu canário que quer voar…
Eu sou teu canário, homem pequenino,
deixa-me saltar.

Estive na tua gaiola, homem pequenino,
homem pequenino que gaiola me dás.
Digo pequenino porque não me entendes,
nem me entenderás.

Também não te entendo, mas enquanto isso
abre-me a gaiola que quero escapar;
Homem pequenino, te amei meia hora,
não me peças mais.

(Tradução de Héctor Zanetti)

» Biografia de Alfonsina Storni

Hombre Pequeñito
Alfonsina Storni

Hombre pequeñito, hombre pequeñito,
suelta a tu canario, que quiere volar…
Yo soy el canario, hombre pequeñito,
déjame saltar.

Estuve en tu jaula, hombre pequeñito,
hombre pequeñito que jaula me das.
Digo pequeñito porque no me entiendes,
ni me entenderás.

Tampoco te entiendo, pero mientras tanto
ábreme la jaula que quiero escapar;
hombre pequeñito, te amé media hora;
no me pidas más.

Publicado em Alfonsina Storni | Com a tag , , | Deixar um comentário

Vou dormir (Alfonsina Storni)

Dentes de flores, touca de sereno,
Mãos de ervas, tu, ama-de-leite fina,
Deixa-me prontos os lençóis terrosos
E o edredom de musgos escardeados.

Vou dormir, ama-de-leite minha, deita-me.
Põe-me uma lâmpada à cabeceira;
Uma constelação; a que te agrade;
Todas são boas: a abaixa um pouquinho

Deixa-me sozinha: ouves romper os brotos…
Te embala um pé celeste desde acima
E um pássaro te traça uns compassos

Para que esqueças… obrigado. Ah, um encargo:
Se ele chama novamente por telefone
Diz-lhe que não insista, que saí…

(Tradução de Héctor Zanetti)

» Biografia de Alfonsina Storni

Voy a dormir
Alfonsina Storni

Dientes de flores, cofia de rocío,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme prestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos escardados.

Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.
Ponme una lámpara a la cabecera;
una constelación; la que te guste;
todas son buenas; bájala un poquito.

Déjame sola: oyes romper los brotes…
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases

para que olvides… Gracias. Ah, un encargo:
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido..

Publicado em Alfonsina Storni | Com a tag , , | 6 comentários

O rogo (Alfonsina Storni)

Senhor, Senhor, faz já tanto tempo, um dia
Sonhei um amor como jamais pudera
Sonhá-lo ninguém, algum, amor que fora
A vida toda, toda a poesia…

E passava o inverno e não vinha,
E passava também a primavera,
E o verão de novo persistia,
E o outono me encontrava em minha espera.

Senhor, Senhor; minhas costas estão desnudas.
Faça estalar ali, com mão rude,
O açoite que sangra aos perversos!

Que está a tarde já sobre minha vida,
E esta paixão ardente e desmedida,
A hei perdido, Senhor, fazendo versos!

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

» Biografia de Alfonsina Storni

El Ruego
Alfonsina Storni

Señor, Señor, hace ya tiempo, un día
soñé un amor como jamás pudiera
soñarlo nadie, algún amor que fuera
la vida toda, toda la poesía.

Y pasaba el invierno y no venía,
y pasaba también la primavera,
y el verano de nuevo persistía,
y el otoño me hallaba con mi espera.

Señor, Señor; mi espalda está desnuda,
haz estallar allí, con mano ruda
el látigo que sangra a los perversos!

Que está la tarde ya sobre mi vida,
y esta pasión ardiente y desmedida
la he perdido, ¡Señor, haciendo versos!

Publicado em Alfonsina Storni | Com a tag , , | Deixar um comentário

A carta (Violeta Parra)

Me mandaram uma carta
Pelo correio cedo
Nessa carta me dizem
Que caiu preso meu irmão
E sem compaixão com grilhões
Pelas ruas o arrastaram.
Sim…

A carta disse o motivo
Que há cometido Roberto:
Haver apoiado a greve
Que já se havia resolvido
Se acaso isso é um motivo
Preso vou também sargento.
Sim…

Eu que me encontro tão longe,
Esperando uma notícia,
Me vem a dizer na carta
Que em minha pátria não há justiça.
Os famintos pedem pão,
Os molesta a polícia.

Haverá se visto insolência,
Ignorância e traição.
De apresentar o trabuco
E matar a sangue frio.
Há quem defesa não tem
Com as duas mãos vazias.
Sim…

A carta que me mandaram
Me pede contestação:
Eu peço que se divulgue
Por toda população
Que o leão é um sanguinário
Em toda geração
Sim…

Por sorte tenho guitarra
E também tenho minha voz,
Também tenho sete irmãos
Fora do que se algemou,
Todos revolucionários
Com o favor de meu Deus.
Sim…

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

» Biografia de Violeta Parra

La carta
Violeta Parra

Me mandaron una carta
por el correo temprano,
en esa carta me dicen
que cayó preso mi hermano,
y sin compasión, con grillos,
por la calle lo arrastraron.
Sí…

La carta dice el motivo
que ha cometido Roberto:
haber apoyado el paro
que ya se había resuelto.
Si acaso esto es un motivo
presa voy también, sargento.
Sí…

Yo que me encuentro tan lejos
esperando una noticia,
me viene a decir la carta
que en mi patria no hay justicia,
los hambrientos piden pan,
los molesta la milicia.

Habráse visto insolencia,
barbarie y alevosía,
de presentar el trabuco
y matar a sangre fría
Hay quien defensa no tiene
con las dos manos vacías.
Sí…

La carta que me mandaron
me pide contestación,
yo pido que se propale
por toda la población,
que el «león» es un sanguinario
en toda generación.
Sí…

Por suerte tengo guitarra
para llorar mi dolor,
también tengo siete hermanos
fuera del que se engrilló,
todos revolucionários
con el favor de mi Dios.
Sí…

La carta – Mercedes Sosa (gravado ao vivo no Brasil, em 1990)
Publicado em Violeta Parra | Com a tag , , , | Deixar um comentário

Te recordo Amanda (Victor Jara)

Te recordo Amanda,
a rua molhada,
Correndo à fábrica,
onde trabalhava Manuel…

O sorriso largo,
a chuva no cabelo
Não importava nada,
ias a encontrar-te com ele…

Com ele, com ele, com ele, com ele…
São cinco minutos. a vida é eterna em cinco minutos.
Soa a sirene, de volta ao trabalho
E tu… caminhando o iluminas tudo,
Os cinco minutos te fazem florescer

Te recordo Amanda, a rua molhada,
Correndo à fábrica onde trabalhava Manuel…
O sorriso largo, a chuva no cabelo
Não importava nada, ias a encontrar-te com ele…

Com ele, com ele, com ele, com ele…
Que marchou para a serra,
Que nunca fez dano, que marchou para a serra,
E em cinco minutos ficou destroçado…
Soa a sirene, de volta ao trabalho
Muitos não voltaram…tão pouco Manuel.

Te recordo Amanda, a rua molhada
Correndo à fábrica onde trabalhava Manuel…

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Te recuerdo Amanda
Victor Jara

Te recuerdo, Amanda,
la calle mojada,
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.

La sonrisa ancha,
la lluvia en el pelo,
no importaba nada,
ibas a encontarte con él.

Con él, con él, con él, con él.
Son cinco minutos. La vida es eterna en cinco minutos.
Suena la sirena. De vuelta al trabajo
y tœ caminando lo iluminas todo,
los cinco minutos te hacen florecer.

Te recuerdo, Amanda,
la calle mojada
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.

La sonrisa ancha,
la lluvia en el pelo,
no importaba nada
ibas a encontrarte con él.

Con él, con él, con él, con él.
que partió a la sierra,
que nunca hizo daño. Que partió a la sierra,
y en cinco minutos quedó destrozado.
Suena la sirena, de vuelta al trabajo
muchos no volvieron, tampoco Manuel.

Te recuerdo, Amanda,
la calle mojada,
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.

Victor Jara – Te Recuerdo Amanda (ao vivo no Festival Teatro I.E.M. – Chile – 1972)

Publicado em Victor Jara | Com a tag , , , | Deixar um comentário