Introdução do livro “Cineclube imigração” sobre o papel do cineclubismo e a imigração em Goiás.
A integração do Estado de Goiás com outras latitudes continentais, no que diz respeito à arte e cultura, tem acontecido a partir de uma força ativa da comunidade goiana, os imigrantes chilenos. A comunidade chilena em Goiás é numericamente pequena, aproximadamente 500 pessoas entre nativos, esposas e filhos, número insignificante se comparado com as comunidades chilenas no resto do Brasil. O cinema tem sido uma das ferramentas utilizadas para integrar e para conhecer a cultura e as manifestações típicas. O meio de difusão tem sido a realização de ciclos de cinema chileno e manifestações artísticas que a destacam na cultura goiana.
As relações de amizade entre Brasil e o Chile, na atualidade, se dão pelo bom desempenho econômico que ambos os países conquistaram nas últimas décadas. Esta relação está presente também na literatura e no cinema. O livro “Cineclube Imigração” tenta fazer uma aproximação dessa relação, enfocando os momentos importantes que entrelaçaram esta amizade, como o auge político vivido por muitos brasileiros exilados no Chile pela ditadura militar na década de 70 e a posterior relação dos imigrantes chilenos no Brasil. Finalmente o cinema como revisão do passado e como nexo entre duas nações que embora não possuam fronteira territorial, experimentam uma aproximação no processo histórico e ideológico.
A participação política na América Latina nos últimos 40 anos esteve marcada pelos diversos golpes de Estado e pelo retorno ao sistema democrático. A cinematografia latino-americana registrou de forma sistemática os fatos mais significativos da repressão, perseguição e torturas geradas em suas fronteiras. A relação de amizade entre Brasil e o Chile se deu pelo intercâmbio gerado entre ambos durante os processos ditatoriais entre 1964 a 1990. No Governo de Salvador Allende se exilaram no Chile aproximadamente 10 mil brasileiros, muitos deles jovens com inclinações artísticas e culturais, impedidos de exercer suas aspirações devido à participação na resistência política e guerrilheira contra a ditadura. Com o retorno ao sistema democrático, puderam desenvolver uma vida criativa e em outros casos imprimindo suas experiências vivenciadas no exílio chileno em suas produções cinematográficas.
O Cineclube Imigração tem como finalidade a integração cultural entre o Brasil e o Chile, a troca de experiências entre pessoas que moraram em ambos os países e que podem aportar novos elementos culturais e educacionais. A proposta do Imigração, além do intercâmbio cultural, é promover a integração do cinema e da educação. Um exemplo é a parceria com o Sindicato dos Professores de Escolas Particulares, que durante dois anos desenvolveram atividades relacionadas à temática da rotina do professor e a situação da educação na sociedade goiana, e a elaboração do Seminário anual “Encontro de Cinema e Educação”, que faz um diagnóstico e realiza uma aproximação dos projetos que envolvem Cinema e Educação de forma prática, divertida e criativa.
Este livro está dividido em cinco capítulos, elaborados para serem apresentados em Encontros de Cinema, como a Semana do Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (SAU), o Encontro de Pesquisadores de Cinema Chileno e Latino-americano da Cinemateca Chilena em Santiago e a elaboração de textos para os livros “América Latina e língua espanhola: Perspectivas decoloniais” publicado pela Universidade Federal de Goiás e “Cineclubismo em Goiás, uma história de resistência e emancipação”, editado pela Universidade Federal de Catalão.
O primeiro capítulo, denominado “Cinema e imigração: As realizações cinematográficas entre Brasil e o Chile”, apresentado na SAU em 2012, desenvolve um marco histórico em que ambos os países mantêm uma relação de amizade mesmo sem limites fronteiriços, mas preservam uma admiração mútua de respeito da cultura e os valores intrínsecos em cada uma das nações. Estes fatos são contados a partir de narrações bibliográficas e fílmicas que expressam as experiências e situações vividas.
O capítulo dois denomina-se “A presença do Chile na cinematografia política brasileira dos últimos 30 anos”, apresentado no Encontro de Pesquisadores de Cinema Chileno e Latino-americano da Cinemateca Chilena no ano de 2015. Ilustra a memória dos militantes políticos da esquerda brasileira que vivenciaram o governo chileno do socialista Salvador Allende, relegados ao exílio e muitas vezes colaborando com a construção de um socialismo ao estilo chileno da “empanada e o vinho tinto”. A ascensão de Allende, a construção do sonho revolucionário abandonado no Brasil, a crise institucional, o golpe de Estado de Pinochet e o novo exílio com destino à Europa.
O capítulo três denomina-se “Cine imigração: chilenos em Goiânia, uma forma de ultrapassar as fronteiras através do cinema”. Apresentado na SAU em 2013, realiza uma descrição da composição e motivos que levaram um grupo de chilenos a criar um mecanismo de integração para dar a conhecer as expressões e manifestações culturais de seu país, através de ciclos de cinema, de textos, artigos e filmes.
O capítulo quatro realiza uma descrição da realidade audiovisual goianiense, tanto de formação como das projeções do cinema como ferramenta transformadora do processo educativo. Este material é um compêndio de três artigos realizados pelo Cineclube Imigração com a parceria de diversas instituições, como a Vila Cultural Cora Coralina, o Cine Cultura, o Colégio Decisão, o SENAC, o SINPRO, o CEPI Cecília Meirelles de Aparecida de Goiânia, o Curso de Audiovisual e Cinema da Universidade Estadual de Goiás, o Realizador Audiovisual Andreh Moons e os diversos Cineclubes que participaram, entre eles, cineclube 7ª Arte de Acreúna, Bernardone e Catedral das Artes de Goiânia, entre outros projetos que colaboraram com esta iniciativa.
O primeiro é um texto narrativo em prosa, premiado no Concurso Literário para Professores do Sinpro em 2013, “Professor-imigrante, uma realidade particular em Goiânia”. O segundo artigo foi apresentado na SAU em 2011, denominado “Os Audiovisuais na educação, uma oportunidade significativa de interação entre realizador e o professor”, porém o texto foi atualizado e recebe o nome de “Cinema, Cineclubismo e Educação”, que mais tarde inspirou o Seminário “Encontro de Cinema e Educação” que apresenta os projetos significativos que envolvem ações cinematográficas no sistema educacional. Este seminário se realiza desde 2013 e se encontra na 8ª edição. Finalmente a parceria do Cine Ibero-americano com o Sindicato dos professores de colégios particulares, que desenvolveu o projeto Cineclube Sinpro, com a finalidade de difusão do Cineclubismo no sistema educacional e como prática pedagógica dos professores.
O último capítulo está relacionado com “A Presença da Imigração chilena no movimento Cineclubista de Goiás (2014-2020)”, material que foi preparado para o livro “Cineclubismo em Goiás, uma história de independência e Emancipação”, destacando o papel da comunidade chilena no desenvolvimento da cultura e do desenvolvimento cineclubista no Estado de Goiás.
Para finalizar, breves conclusões sobre o papel do Cineclube Imigração no processo de integração entre a comunidade chilena localizada em Goiás, a população goianense e instituições culturais e educacionais chilenas, bem como as propostas de produção audiovisual e bibliográfica que permitam construir pontes de aproximação e contatos entre ambas as localidades. A realização de ciclos de cinema goiano no Chile permitirá uma abertura importante para integração e conhecimento das características culturais aproximando e diminuindo distâncias entre o Estado de Goiás e o Chile.
Texto: Francisco Lillo Biagetti
Revisão: Amanda Teixeira