Fundado em 21 de janeiro de 2023 e inaugurado no último dia 20 de julho, a sala do Cine Satyros Bijou, mesmo sendo acrescida de cadeiras extras, não foi suficiente para acomodar as pessoas que lá foram para prestigiar o lançamento do Cineclube Nicole Puzzi e assistir ao filme As Vampiras (2023) de Rubens Mello, com Débora Munhyz, Lis Vamp e Nicole Puzzi, como convidada especial.
O Cineclube é o resultado de um processo de construção em prol de preservar, conservar e difundir o legado da “Boca do Lixo”, polo de produção de filmes que ocupou as telas dos cinemas brasileiros nas décadas de 1970 a 1980, concorrendo de igual para igual com os enlatados estrangeiros. O cineclube está inserido num escopo que envolve examinar o legado daquele território cinematográfico paulistano, fato que a historiografia do Cinema Brasileiro registra, aquele ciclo de produção de filmes, como um dos mais significativos do país.
Nicole faz parte das “Mulheres da Boca”, como diz o professor Máximo Barro, responsáveis pelo sucesso de bilheterias dos filmes produzidos no Território Cinematográfico Paulistano, uma das experiências mais controvertidas, belas e desconstruídas do Cinema Brasileiro. O professor e pesquisador do Cinema Brasileiro credita principalmente as mulheres protagonistas, o sucesso dos filmes produzidos naquele ciclo de cinema. Anteriormente essa primazia coube a figura masculino.¹
Neste aspecto, resgatar, preservar e difundir aquela metodologia de trabalho, no qual todos faziam de tudo, numa via de mão dupla, entre teoria e prática. Do que ali foi gestado, importa sua continuidade, uma vez que vem sendo assimilado pela nova geração, que acredita no ato democrático do fazer artístico.
Nicole Puzzi, é uma das mais importantes atrizes que atuaram naquele quadrilátero da Rua do Triumpho, com as Ruas Vitória e Gusmões. Ela continua na ativa, como atriz e militante em defesa do Cinema da Boca.
O objetivo do cineclube está norteado pela trajetória da atriz; por sua intransigência com relação ao papel ativo da mulher na sociedade, pela crença no cinema popular, como uma forma de se comunicar com o grande público; na militância em prol da causa LGBTQIAPN+; por seu engajamento pela causa dos animais e contra todo tipo de preconceito e discriminação.
Protagonista em diversos filmes que arrastaram multidões para os cinemas, Nicole hoje encarna a vanguarda que foi no passado por meio dos seus filmes, contribuindo para o protagonismo feminino que atualmente se soma às lutas das mulheres por salários justos e pela igualdade dos gêneros. Nicole Puzzi é mãe, assistente social, advogada, escritora, atriz, apresentadora de televisão, mulher independente, musa do cinema popular brasileiro e ativista social, em especial pelas causas dos animais indefesos e do meio ambiente.
Homenageá-la nomeando um cineclube com o seu nome é uma forma de dizer: “Viva o Cinema Brasileiro, viva as mulheres que fazem o cinema no Brasil”. A ação prática do cineclube será exibir filmes preferencialmente brasileiros, e promover debates, oficinas e seminários que giram em torno destes objetivos.
Inicialmente o cineclube terá uma sessão mensal no Cine Satyros Bijou às quintas-feiras, às 20h, sempre com debate após cada sessão. Sua programação até sua inauguração contemplaria filmes que a atriz participou e aqueles que abordam temas condizentes com os defendidos pela protagonista do cineclube. No entanto, depois do debate, ocorreram dois fatos que merecem destaque: 1) Vários cineastas que lá estavam já ofereceram seus filmes, inclusive os inéditos para serem exibidos e 2) diversas pessoas se propuseram a preencher ficha e participar da equipe do cineclube, vindo a somar esforços com os fundadores: Alexandre Miyazato, Diogo Gomes dos Santos, Joseane Alves Ferreira, Gisele Lourenço Lourenço de Siqueira, Maura Cardoso e Nicole Puzzi.
Filiado ao Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros
Texto: Diogo Gomes dos Santos
Revisão: Amanda Teixeira