MONIZ BANDEIRA INDICADO AO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA

A UBE – União Brasileira de Escritores acaba de indicar o nome do cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira para o prêmio
Imagem ilustrativa 27.01.2014

A UBE – União Brasileira de Escritores acaba de indicar o nome do cientista político e escritor Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira para o Prêmio Nobel de Literatura da Real Academia Sueca. A indicação atendeu a um convite direto do Comitê do Prêmio Nobel à entidade sediada em São Paulo e que congrega 1.500 escritores de todo o país (em sua história, desde a fundação, em 1958, por figuras como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Marcos Rey e Lygia Fagundes Telles, entre outros, a UBE já contou com mais de 4.300 associados). Segundo o regulamento do Prêmio Nobel, podem fazer indicações “presidentes de sociedades de autores que sejam representativas da produção literária em seus respectivos países”.
Outra entidade brasileira, a Academia de Letras de Minas Gerais, também apoiou a indicação do nome de Moniz Bandeira e oficializou indicação.
Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira é cônsul honorário do Brasil na cidade alemã de Heidelberg. Autor de mais de 20 obras, notadamente ensaios políticos, também é poeta consagrado, com três livros saudados pela crítica: Verticais, de 1956, Retrato e Tempo, de 1960, e Poética (2009).
Vários de seus livros são adotados pelo Itamaraty, no curso de formação de diplomatas. Entre eles “Formação do Império Americano – da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque”, livro com o qual foi reconhecido, em 2005, como Intelectual do Ano, merecendo o troféu Juca Pato, da mesma UBE. Mais de oito anos atrás, Moniz Bandeira já denunciava nesse trabalho a espionagem praticada pelas agências de segurança norte-americanas em diversos países. Este livro foi traduzido para o mandarim e publicado na China, e também traduzido para o espanhol e publicado na Argentina e em Cuba.
Seu livro mais recente, publicado em 2013, é “A Segunda Guerra Fria” que trata da geopolítica e da dimensão estratégica dos Estados Unidos nas rebeliões da Eurásia e nos movimentos da África do Norte e Oriente Médio.
Escreve Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-executivo do Ministério das Relações Exteriores e ex-Alto Comissário do Mercosul, no prefácio dessa obra: “Importante contribuição da obra de Moniz Bandeira é a revelação documentada de que as revoltas da Primavera Árabe não foram nem espontâneas e ainda menos democráticas, mas que nelas tiveram papel fundamental os Estados Unidos, nas promoção da agitação e da subversão, por meio de envio de armas e de pessoal, direta ou indiretamente, através do Qatar e da Arábia Saudita.”
O livro “A Segunda Guerra Fria” foi escrito entre março e novembro de 2012, praticamente acompanhando no tempo os acontecimentos recentes mais significativos. Outros ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura foram escolhidos por obras que versavam sobre a história de seu tempo, entre eles Theodor Mommsen, Sigrid Undset, Pearl S. Buck e Winston Churchill.
Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, caso seja selecionado pelo Comitê do Prêmio Nobel, em outubro de 2014, será o primeiro brasileiro laureado com o mais importante prêmio mundial da Literatura.

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Redaçao Empresarial Sem Misterios

Redação
Este livro levará o leitor a refletir sobre a lógica da língua, ajudando-o a construir combinações corretas e de entendimento universal.
Apresenta uma coleção de dicas que ajudarão o usuário a elaborar textos adequados às necessidades do dia a dia, além de orientações sobre aspectos básicos da língua portuguesa.
O leitor aprenderá a evitar vícios de linguagem, regionalismos e gírias, e também verá a utilidade das figuras de linguagem.
Além disso, vai conhecer convenções usadas na grafia de horas, medidas e siglas, bem como terá explicações sobre pontuação, grafia de elementos numerais, plural de substantivos compostos, e também sobre o uso e a regência de verbos.
É livro de autor conceituado, Joaquim Maria Botelho, atual presidente da União Brasileira de Escritores. E foi publicado pela Editora Gente.

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Primeiras Estórias

A Editora Nova Fronteira acaba de publicar mais um livro de contos de João Guimarães Rosa
Nesses contos sobressaem os costumes e a linguagem das gentes de Minas. O livro contém ‘A terceira margem do rio’, clássico da literatura transformado em filme por Nelson Pereira dos Santos em 1993.
É certamente o melhor livro para o jovem ser apresentado à literatura de Guimarães Rosa. E adentrar no mundo deste autor com traço e estilo únicos.
Guimarães Rosa, já dissemos aqui, é um dos principais escritores brasileiros de ficção, comparável a Machado de Assis, Euclides da Cunha e Graciliano Ramos.
Seu estilo, entretanto, é muito pessoal, ousado, criativo, além de incorporar o linguajar dos sertanejos e, por este motivo ser considerado os mais brasileiro de nossos escritores.
Principal renovador da prosa brasileira moderna, foi traduzido em muitos idiomas sempre com sucesso de público e crítica. Foi membro da Academia Brasileira de Letras.

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Calçada de Verso

Neste livro, a autora Flora Figueiredo procura tirar o máximo proveito da palavra, visando apresentar no final do poema uma mensagem de impacto e desconcertante.
A autora alterna poemas marcados pela ternura com outros matreiros e sofridos. Entre o amor, o humor e algumas tiradas filosóficas, Flora Figueiredo, demonstra seu domínio da palavra.
Flora já publicou diversos livros de poemas como “Amor a Céu Aberto”, “Estações”, “Florescência”, “Limão Rosa” e “Chão de Dentro”, e outros.
Flora ainda recebeu diversos prêmios literários de prestígio sendo bastante considerada pelo público e pela crítica. O livro foi pulicado pela Editora Novo Verso,

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Adoniran – Uma biografia

Há cem anos nascia João Rubinato mais tarde conhecido como Adoniran Barbosa, compositor, cantor, ator, humorista e cidadão participante.
De fato, em plena ditadura militar, Adoniran animou as apresentações do Teatro de Ciências Sociais da USP a favor da anistia aos presos políticos.
No centenário de nascimento do maior sambista de São Paulo – e um dos grandes nomes da canção brasileira – nada mais indicado que a leitura de um bom livro.
O trabalho feito por Celso de Campos Jr. apresenta a vida de Adoniram com informações obtidas do material primário do museu dedicado ao compositor no Bixiga, e de entrevistas com pessoas que conviveram com o mestre.
E ainda pesquisas feitas em arquivos públicos, bibliotecas, centros culturais e bancos de dados de jornais.
Mas o livro não é somente uma biografia de Adoniran. Não apenas porque uma galeria de nomes das cenas paulistana e nacional povoa o livro. Mas porque o autor fundiu biografia e história, vida pessoal e vida social.
Assim, ele apresenta ao leitor, desde o norte da Itália, de onde vieram os pais de João Rubinato até um estúdio de rádio dos anos 1930, onde ele tenta tornar-se cantor.
O livro, repleto de fotos, proporciona também um passeio pela cidade ao tempo em que conviveu com seu principal intérprete de todos os tempos.
O autor é Celso de Campos Jr. E foi pulicado pela Editora Globo.

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Rios Sedentos

Em edição ilustrada, o livro “Rios Sedentos” conta a história de uma cidadezinha do sertão baiano que tem seus dias contados com a construção de uma barragem.
Fernando, o narrador da história – um jovem de 12 anos – acompanhará o pai numa viagem até sua cidade natal, Bananeiras, antes que ela seja inundada pelas águas da barragem e desapareça.
Nesta história, que emociona o leitor a cada página, o autor, Roniwalter Jatobá, retrata com objetividade e profundidade o descaso do poder público com a memória histórica dos longínquos povoados nordestinos.
É o relato comovente da despedida de um homem de meia idade de suas raízes sertanejas, aos olhos do filho que desconhece este universo.
O autor é o consagrado escritor Roniwalter Jatobá; a edição é da Nova Alexandria

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Anjo das Ondas

Os pais de Gustavo estão separados. Ela, professora, vive em Londres, enquanto o pai, escritor, vive no Brasil, no Rio de Janeiro.
Mas não é só a vida de vai e volta entre as duas cidades que divide a consciência do protagonista.
Nem a separação dos pais causa-lhe grandes traumas. Ao contrário, o que se percebe é Gustavo, se pudesse, gostaria de se apartar tanto de um quanto de outro.
De fato, a idade o principal fator que o faz oscilar entre o mundo dos adultos e o da infância.
Na trama, ele completa quinze anos exatamente ao atravessar de volta o Atlântico.
Se regressar ao Brasil significa pisar de novo a ‘relva da infância’ significa, ao mesmo tempo, partir em busca da sonhada, embora temida, consciência de si mesmo.
A identidade, nas histórias do premiado autor, João Gilberto Noll, é uma coisa precária e periclitante. Afinal, persiste sempre a pergunta: “É esse o meu lugar?
Autor:João Gilberto Noll – Editora Scipione

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Distopia

Estamos num futuro distante e nele as sociedades e seus conceitos sofreram transformações amplas e dramáticas.
Divididos em ‘mundos’, inimigos entre si, democratas, libertaristas e teologistas lutam em uma guerra permanente, estagnada e sem saída.
Em meio à animosidade geral que reina nas linhas de combate, um jovem funcionário democrata realiza visita a uma das frentes de batalha.
Planejada como uma breve experiência para novos burocratas, a viagem acaba por apresentar muitos acasos.
Estes podem ser verdadeiros ou falsos, e levarão o protagonista a mundos desconhecidos e a uma descoberta surpreendente.
Autor: hélio Franchini Neto – Ed. Ateliê

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De menino a homem

Gilberto Freyre, um dos maiores pensadores do Brasil, dedica-se, nesta obra a rememorar as principais passagens de sua vida.
Faz uma reflexão intimista sobre sua vida pessoal, acadêmica e política desde os anos 1930 até o início dos anos 1980. Comenta a convivência com seus pais e o significado definitivo que o casamento com Magdalena, em 1941, teve em sua existência.
Freyre também aborda as leituras que lhe impressionaram ao longo de sua vida e o contato que teve com pessoas de importância marcante na história do país, como Getúlio Vargas, p.ex.
Descreve ainda momentos importantes de sua trajetória, como aqueles em que realizou pesquisas em Portugal, no Brasil e nos Estados Unidos para a escrita de ‘Casa-grande & senzala’.
Esta edição apresenta um caderno iconográfico concebido como um álbum de família, que reúne fotos de Freyre em algumas de suas viagens e ao lado de familiares e amigos. Ed. UNESP

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Casa Grande e Senzala em Quadrinhos

Publicado pela primeira vez em 1981, este livro foi planejado por Adolfo Aizen, com roteiro de Estevão Pinto, ilustrações de Ivan Wasth Rodrigues e assessoria do próprio autor, Gilberto Freyre.
A adaptação da obra para quadrinhos não foi um trabalho fácil. Exigiu grande esforço de adaptação e a pesquisa de imagens adequadas.
A atual edição em cores deu mais vida ao livro e mais expressão ao texto de Freyre. Sucinta e didática, esta edição traz um apanhado de fatos e costumes dos povos que formaram a nação brasileira, desde os primórdios da colonização até a época da escravidão dos negros.
Alicerçada na miscigenação das raças o livro mostra como cada uma delas influiu na nossa cultura. Esta versão é uma grande oportunidade de conhecer, mesmo que de maneira resumida, um pouco deste clássico da sociologia brasileira, publicada em 1933.

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A história da destruição cultural da América Latina

O venezuelano Fernando Báez se especializou em denunciar destruições culturais. Já fizera algum sucesso com “História Universal da Destruição dos Livros”.
Tornou-se “persona non grata nos EUA por criticar a destruição do patrimônio iraquiano por bombas, tanques e soldados americanos. Incluem-se aqui relíquias com mais de 5 mil anos.
Neste livro, o autor aborda a destruição cultural da América Latina com documentação farta e relevante. Para ele houve etnocídio e memoricídio premeditados.
Alguém pode argumentar que não poderia ser diferente. A cultura do mais forte sempre se impõe sobre a do derrotado.
Mas, vale a pena saber como isto ocorreu na América Latina e como, de certa forma, ainda ocorre, hoje mais no plano da indústria cultural e da ideologia embalada por ela em filmes, noticiário, séries de televisão, discos, brinquedos e até alimentos. Editora Nova Fronteira

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O destino de Maria

Em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, Maria, a boba, foi contemplada por um prêmio da loteria, mas ainda não sabe, pois está dormindo.
Enquanto isso enquanto todos discutem quem é merecedor de tal fortuna
Seria o noivo, que não passa de um cachaceiro, boêmio e infiel. Ou seria a família que, depois que a moça foi seduzida e deflorada, nunca mais quis saber da pobre coitada.
Maria tem apenas uma amiga, que nada fala, porém tudo ouve, contempla seu sono, assim como tudo o que acontece na cidadezinha.
O que ela vai contar para Maria? O que ela pode fazer? Estes são alguns enigmas do romance que vão desembocar no maior deles: Qual será o destino de Maria?
O livro foi publicado pela Ed. Conecta Brasil e sua autora, Eliane de Freitas já publicou outros livros entre os quais Era isto que o meu amor via, Eu te amo e ponto final, Mãos na cabeça, vagabundo! e o mais conhecido Oculta, uma sentença masculina, com apresentação de Levi B. Ferrari.

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O sal da Terra

Livro perfeito é coisa rara. Pois aqui está um desses poucos. A leitura agradável, desvenda o mundo branco e desconhecido das salinas no Nordeste brasileiro.

Com economia de palavras, dispostas com maestria, este mundo se mostra de dentro para fora, devassado com autenticidade fotográfica.

A salina perde as dimensões de postal turístico e ganha em tamanho, força e verdade. Mas, a denúncia social das condições de trabalho e vida do povo do sal, não é um panfleto.

É antes história que faz aparecer com a mesma naturalidade a fome, a cegueira, o meretrício, a paixão, as taras como também e os planos e sonhos de cada um.

A vida e a agonia de uma multidão de párias que vegeta e morre com lentidão no mundo de cloreto de sódio, os iguala socialmente. Mas não reduz as características de personalidade bem distintas entre si. E muito bem delineadas pelo premiado autor Caio Porfírio Carneiro. A publicação foi feita pela Editora LetraSelvagem

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A morte da porta-estandarte, Tati, a garota e outras histórias.

Até então esgotados, os contos de Aníbal Machado são enfim oferecidos em nova publicação pela José Olympio.

Personalidade singular, o autor é, sem dúvida, um dos melhores contistas de nossa literatura moderna.

Escreveu pouco, mas quase tudo que fez constituiu-se em obras primas e muito originais. Desmente o mito arraigado mito de que o bom escritor publica bastante.

Escritor militante, foi deputado estadual pelo PCB no antigo Estado da Guanabara e presidente do I Congresso de Escritores em 1945.

Mineiro de Sabará destaca-se por contos que prendem a atenção do leitor numa linguagem elevada e ao mesmo tempo já mergulhada nas experimentações modernistas.

Por outro lado, o crítico Fábio Lucas afirma que Aníbal Machado foi o primeiro escritor surrealista no Brasil.

No livro confluem o universo tacanho, religioso e sobrenatural das pequenas cidades mineiras, o cotidiano de desigualdades e violência da metrópole numa combinação de registros psicológicos, absurdos e fantásticos.

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Nobel de Literatura: Livro sobre desaparecida política revela ao mundo Brasil ‘desconhecido’

Mônica Vasconcelos
Da BBC Brasil em Londres
Atualizado em 7 de junho, 2013 – 09:23 (Brasília) 12:23 GMT

Detalhe da ilustração da capa do livro K
Um livro que narra a busca de um pai por sua filha desaparecida política durante a ditadura militar no Brasil está surpreendendo editores estrangeiros ao revelar um capítulo pouco conhecido da História brasileira – ao menos no exterior.
Publicado no Brasil em 2011, o livro K, do escritor e cientista político paulistano Bernardo Kucinski, já ganhou traduções em inglês, espanhol e catalão, e será publicado também em alemão e hebraico.
Obra de ficção, o livro é baseado nas histórias reais do pai do autor, Majer Kucinski – o personagem K -, um judeu polonês que fugiu do nazismo e foi viver no Brasil, e da irmã do escritor, Ana Rosa Kucinski Silva.
Militante política e professora de química da Universidade de São Paulo (USP), Ana Rosa foi sequestrada e morta por agentes a serviço do governo militar. Seu corpo jamais foi encontrado.
O ex-delegado do Dops Cláudio Guerra confirmou, em entrevista ao jornalista Alberto Dines, exibida em 2012 pelo programa de TV Observatório da Imprensa, que recebeu o corpo de Ana Rosa, que teria sido morta em sessão de tortura, para ser incinerado.
Em entrevistas à BBC Brasil, intelectuais e pessoas envolvidas na publicação de K no exterior disseram que o livro chama a atenção ao revelar para o mundo, em um relato comovente e envolvente, o drama humano por trás da realidade violenta da ditadura militar no Brasil.
Em um momento em que a Comissão da Verdade se esforça para recuperar a história desse período, o lançamento internacional também contribuiria para aumentar a pressão externa sobre o governo brasileiro para que tome providências e puna os culpados, disseram.
Bem x Mal
A versão alemã de K será lançada pela editora berlinense Transit durante a Feira do Livro de Frankfurt, que neste ano estará homenageando o Brasil.
Segundo o editor, Reiner Nitsche, o foco em temas brasileiros fez com que ele recebesse muitas ofertas de obras do país para publicação. Mas nenhuma chamou tanto sua atenção como K.
“Nunca associamos histórias de sequestros e desaparecimentos ao Brasil. Pensávamos que essas coisas só tinham acontecido na Argentina e no Chile”.
“Outro ponto importante é a conexão com a história alemã. K nasceu na Polônia na década de 30 e era ativo politicamente, combatendo o antissemitismo. Por isso, foi preso e mais tarde teve de fugir para o Brasil. Anos depois, sua irmã foi morta pelos nazistas.”
Para Nitsche, no entanto, a principal justificativa para a decisão de publicar a obra na Alemanha é a forma como o livro aborda a temática política.
Em K, a comovente busca do personagem central por sua filha é narrada de vários pontos de vista. O leitor habita a mente do pai desesperado, do informante, da amante do torturador, da faxineira que limpa a casa onde os prisioneiros são torturados e mortos, dos ex-colegas da desaparecida na universidade e dos militantes clandestinos que lutam contra a ditadura, entre outros.
“O tipo de verdade que você tem nessa história política é muito raro de encontrar”.
“Isso é muito novo e interessante para nós, porque você percebe que a ditadura é cruel mas os militantes também podem ser cruéis, seus métodos são similares”.
Nitsche faz referência a um capítulo em que um militante político critica seu próprio líder por não ter permitido que os integrantes do grupo questionassem suas ações.
“O que os militantes estavam fazendo era suicida e alguns perceberam isso, mas não tiveram permissão de questionar ou de abandonar a luta”, disse.
“Se você quiser mudar a cabeça das pessoas, tem de publicar livros como esse, não histórias de bonzinhos e malvados”, acrescentou o editor. “O livro mostra a crueldade terrível da ditadura militar. Mas no decorrer da história, K se dá conta de quantas pessoas estão colaborando com a ditadura. O padeiro, a imprensa, a comunidade judaica em São Paulo”.
Nitsche disse que já recebeu comentários positivos da imprensa alemã sobre K e espera que o livro cause algum impacto no período do lançamento, no final de agosto.
Instrumento Político
A visão cheia de nuances que o livro de Kucinski oferece também mereceu elogios de uma especialista em Justiça de Transição da Oxford University, a professora Leigh Payne.
Comentando o lançamento, em março último, da tradução inglesa na Grã-Bretanha, a especialista disse ter gostado muito da conexão entre a vida do pai, seu passado de luta contra a opressão, e a vida secreta da filha.
“Ele não sabia que a filha estava levando adiante a luta dele”.
“K é muito bom ao tentar mostrar que as vítimas da violência não eram necessariamente inocentes, mas também não eram uma ameaça”.
Para Payne, não há dúvida de que os militantes brasileiros não iam conseguir derrubar o regime. “Ainda assim, lutavam por igualdade e democracia e tinham uma visão patriótica do que o Brasil deveria ser”.
Segundo a especialista, um resultado positivo do lançamento internacional do livro é que ele pode funcionar como um instrumento de pressão por mudanças.
“A violência durante o governo militar no Brasil recebeu muito menos atenção internacional do que a ocorrida na Argentina ou no Chile e essa falta de interesse persiste hoje”.
A publicação de K fora do Brasil “é importante porque aumenta a consciência, no exterior, das violações aos direitos humanos ocorridas no Brasil durante a ditadura militar e faz crescer a pressão sobre o governo brasileiro para que faça algo a respeito”.
Payne lembrou que o governo brasileiro ainda não acatou a sentença, pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos, em 2010, exigindo que o Brasil investigue e puna os responsáveis pelas mortes de militantes no Araguaia.
Dois Desaparecimentos
A versão de K em hebraico deve chegar às lojas israelenses no início do próximo ano pela editora Carmel.
O contato com a editora foi intermediado pelo historiador israelense Avraham Milgram, que vive em Israel e conheceu o pai de Bernardo Kucinski.
“Uma das razões do sucesso desse livro é que pessoas de diversas culturas, países e regimes se identificam com o drama desse pai, é um tema universal”.
Mas K tem para os judeus uma dimensão que talvez escape ao público europeu e brasileiro, explicou.
O pai da desaparecida, Majer Kucinski, escritor e poeta com livros publicados no Brasil e em Israel, era um típico judeu da Europa Oriental, onde floresceu a cultura iídiche. A maioria dos judeus mortos pelos nazistas pertencia a essa cultura.
“Em sua devoção a essa cultura perdida, que existiu durante 800 anos na Polônia e foi erradicada, Majer se alienou dos filhos”, disse o historiador. “Isso talvez tenha facilitado a escolha de Ana Rosa pelo caminho que seguiu”.
Filme
Cientistas políticos no Brasil se perguntam as razões do desinteresse dos brasileiros em relação à história da ditadura militar no país.
“K quase que chegou cedo demais”, disse Leigh Payne. Depois de anos estudando as políticas dos direitos humanos no Brasil e América Latina, ela acha que, para comover o público brasileiro, um livro como esse tem de vir junto com outras coisas:
Um trabalho sério e aprofundado da Comissão da Verdade, o resgate da imagem “negativa” das vítimas, mudanças no conceito de direitos humanos na sociedade brasileira e, quem sabe, algum sucesso nas tentativas de julgar os responsáveis pelos crimes.
Depois disso, “talvez, se alguém fizer um filme sobre o livro, com atores famosos nos papéis principais, os brasileiros irão ao cinema assisti-lo – e aí vão se comover e gostar muito”, concluiu a professora da Oxford University.
Bernardo Kucinski trabalhou na BBC Brasil (antigo Serviço Brasileiro da BBC) entre 1970 e 1974, período em que viveu em Londres.

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Audálio Dantas em 1º lugar no Jabuti!

Vejam no anexo a lista oficial, da primeira fase, do Prêmio Jabuti.

Audálio Dantas está em primeiro lugar entre os 10 mais votados na categoria Reportagem, com o livro “As duas guerras de Vlado Herzog”.

Prêmio Jabuti

Lista dos selecionados na primeira fase, categoria Reportagem.

REPORTAGEM

1º – AS DUAS GUERRAS DE VLADO HERZOG: DA PERSEGUIÇÃO NAZISTA NA EUROPA À MORTE SOB TORTURA NO BRASIL – AUDÁLIO DANTAS – EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

2º – DIAS DE INFERNO NA SÍRIA – KLESTER CAVALCANTI – EDITORA SARAIVA

3º – MÃOS QUE FAZEM HISTÓRIA – CRISTINA PIONER E GERMANA CABRAL – EDITORA VERDES MARES

4º – DIGNIDADE! – VÁRIOS AUTORES – LEYA

5º – CARCEREIROS – DRAUZIO VARELLA – COMPANHIA DAS LETRAS

6º – 1943 ROOSEVELT E VARGAS EM NATAL – ROBERTO MUYLAERT – EDITORA BÚSSOLA

7º – LUZES DA ÁFRICA: PAI E FILHO EM BUSCA DA ALMA DE UM CONTINENTE – HAROLDO CASTRO – EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

8º – U-507 – O SUBMARINO QUE AFUNDOU O BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – MARCELO MONTEIRO – EDITORA SCHOBA

9º – NABUCO EM PRETOS E BRANCOS – FABIANA MORAES – MASSANGANA

10º – O FOLE RONCOU! UMA HISTÓRIA DO FORRÓ – CARLOS MARCELO E ROSUALDO RODRIGUES – EDITORA ZAHAR

IMPORTANTE:

Audálio Dantas acabou de se eleger Intelectual do Ano e deverá receber o Troféu Juca Pato oferecido pela UBE – União Brasileira de Escritores. Foram 1.224 votos recebidos – número  record na história do Prêmio.

A presença de Audálio Dantas no Jabuti confirma ainda mais a importância de sua obra. Vamos torcer pelo Audálio porque, seu livro fez justiça à memóira de Vlado Herzog, denunciou os crimes da ditadura militar, tornando-se instrumento importante na luta por Direitos Humanos no Brasil.

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A RUPTURA NECESSÁRIA

(Prefácio do livro “Ruptura – Anomia na civilização do trabalho” de Antonio Rezk).

Levi Bucalem Ferrari

Mas o que importa não é que os alvos ideais sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade. O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade.

Antonio Candido.

O livro que o leitor tem em mãos constitui instrumento indispensável à compreensão das grandes questões de nossa era e, conseqüentemente, dos inúmeros problemas que afetam nosso cotidiano. Seu autor, Antônio Rezk, tem como primeiro compromisso a busca da verdade, única forma, segundo ele, de superação de uma sociedade mundial extremamente injusta e sem perspectivas. Por isso, a assistir à sua própria crise uma vez que é dela gestora e vítima. A finalidade última da contribuição de Rezk é o alcance de patamar civilizatório mais elevado; algo que se possa chamar de civilização verdadeiramente. Sem meias palavras, sem adjetivos limitadores, subterfúgios, hipocrisias, panacéias, falsos remédios. A crise, ou anomia, é doença social generalizada. Envolve desde o conjunto das relações sociais até o que pensamos sobre elas: nossas atitudes, valores e crenças. E como as reproduzimos e justificamos, através de ideologias. O primeiro passo é, pois, desmistificá-las. Neste intento, Rezk vai fundo em suas pesquisas e no desenvolvimento de seu raciocínio. Enfrenta desafios de todos os tipos, incluindo-se tabus arraigados nas visões de mundo predominantes, tanto a clássica ou liberal quanto a representada pela alternativa marxista, pelo menos em suas vertentes mais difundidas.
Segundo Rezk, a superação definitiva da anomia não está senão na ruptura da maior das ideologias que o mundo conheceu desde seus primórdios: a da valorização do trabalho para outrem, seja ele o soberano ou a empresa; o dono da terra ou o mercado.
Por sua importância, o livro se inscreve entre as grandes obras destinadas a permanecer como marcos na história do pensamento. Quer concordemos ou não com as premissas e conclusões de seu autor, não há negar-lhe a coragem no enfrentamento de convicções arraigadas, bem como a originalidade das análises e propostas; não há negar a qualidade de livro que veio para ficar e cuja leitura atenta ampliará nossa compreensão do mundo.
Por tudo isso, é livro polêmico, não pretende repisar o que já sabemos. Mesmo as pessoas mais informadas encontrarão aqui conceitos e teses novas e inovadoras, cujo alcance nos obriga a contextualizá-las na história recente dos fatos e do pensamento.
Ao contrário de seus antecessores, o século XX não nos presenteou com qualquer teoria explicativa abrangente das relações sociais e de suas possibilidades de transformação. Não que o pensamento humano tivesse se estagnado, longe disso, mas o debate entre a teoria clássica, representada pelos liberais, e a crítica marxista monopolizaram a cena. Pela força interpretativa de cada uma, principalmente da última, o embate entre ambas sufocou qualquer tentativa de vôo autônomo da imaginação antropológica.
Visto de longe, como normalmente vemos a história mais remota, foi um século rápido. Em sua primeira metade, muitos eventos de ordem mundial se sucederam uns sobre os outros: as duas grandes guerras; as revoluções russa e chinesa; o advento do fascismo e do nazismo.
Ao mesmo tempo ocorre a incorporação de outras regiões do planeta à economia capitalista comandada pela Europa, e, logo depois, a ascensão dos Estados Unidos como potência econômica e militar a exigir a transferência do centro hegemônico do capitalismo e do poder mundiais.
No campo da produção, assiste-se ao surgimento da grande empresa industrial estruturada a partir da linha de montagem e o conseqüente aumento da automação do trabalho humano. Este fica destituído de vez de qualquer veleidade criativa. A assinatura do artesão, seu estilo e a dignidade a ele associada perde sentido na nova economia.
No campo político, surgem os sindicatos e os partidos socialistas, ao mesmo tempo em que perdem peso as últimas tradições que sustentavam o poder político feudal e pré-capitalista. Remanescem, em alguns casos, apenas sua pompa e rituais, quando estes não atrapalham a expansão do capital.
Na esfera do pensamento, enquanto os liberais comemoram a vitória de suas teses, os marxistas interpretam o imperialismo como nova etapa do capitalismo. Quanto ao nazi-fascismo – que a todos surpreendeu – os liberais o acusam de retrocesso à economia pré-mercado. E, sob a denominação genérica de estado nacional-popular, enfiam no mesmo saco este tipo de autoritarismo com aquele resultante das experiências soviética e chinesa, autodenominados ditadura do proletariado. Por esta razão, para os liberais, os Estados Unidos, passam a ser o exemplo mais acabado da economia de mercado, porque livres de quaisquer peias pré-capitalistas.
Desde há muito, e principalmente nos dias de hoje, vemos os resultados da insânia de se entregar tudo ao mercado: a ocorrência de crises financeiras de tal monta que obrigam os Estados Nacionais a injetarem recursos públicos nestes mesmos mercados, agonizantes em função da própria ganância e da falta de regras que o disciplinem.
Os marxistas da primeira metade do século XX concordariam com a importância do fim de qualquer entrave de caráter tradicional ao desenvolvimento do capitalismo. O avanço do capital significa também a criação das forças que irão derrubá-lo, ou seja, o proletariado, sua consciência de classe e organização em sindicatos e partidos revolucionários. O capitalismo é condição do socialismo.
Desta forma, uns e outros acabam por fazer o elogio ao trabalho, ponto de partida da acumulação do capital e expansão do capitalismo. Registro isso como uma das principais assertivas de Rezk na sua contraposição a essa ideologia.
A história do século XX continua. Sofreu alterações após a segunda guerra com o fortalecimento dos movimentos operários na Europa e o surgimento do estado do bem-estar social; a guerra fria entre as novas potências, EUA e URSS; e o espalhar-se de partidos comunistas por todo o mundo. Nos países menos desenvolvidos esses partidos passam a identificar-se com o desenvolvimentismo em moldes capitalistas. Ainda que também se propusessem ao implemento dos direitos sociais numa aproximação com o que ocorria na Europa.
O termo desenvolvimento entra em moda sob as mais variadas conotações. Muito resumidamente: enquanto os adeptos do capitalismo pregavam o “crescimento do bolo” para depois se pensar, se fosse o caso, em sua divisão, alguns marxistas do pós-guerra acreditavam que crescimento e divisão poderiam ocorrer simultaneamente. Desenvolveram até teorias sobre uma interação necessária entre os dois processos: a idéia de que por aí o sedutor estado do bem-estar se espalharia pelo mundo.
Elogio ao capital e ao trabalho desde que domado o primeiro e protegido o segundo. Com leis adequadas em ambos os casos e um Estado suficientemente forte para assegurar sua aplicação e o equilíbrio entre aqueles contrários. Ocorre o que Galbraith chamaria de “consenso”. Este inclui ainda apoio aos projetos desenvolvimentistas no terceiro mundo e tolerância controlada das dívidas assumidas pelos países que o compõe.
As últimas décadas do século mostrariam os limites dessas ilusões. E deixariam claro que tudo o que se conseguiu nas décadas anteriores foi, em grande parte, concessão forçada do capital e das potências capitalistas. Aqui se incluem as pressões dos sindicatos fortíssimos do período e as ameaças trazidas pela guerra fria. As potências socialistas fortalecidas no pós-guerra e o avanço dos movimentos de libertação nacional com conotações socialistas assustavam os países capitalistas centrais.
Entretanto, o sonho durou pouco; junto com o muro de Berlim caíram as bases que sustentavam o estado do bem-estar.
Outros fatores contribuiram para isso: o aumento do desemprego; a “globalização” da economia – ou mundialização do capital, como queiram; e o conseqüente enfraquecimento dos estados nacionais e dos sindicatos.
Ressurgem com toda força as idéias liberais tendo como contraponto, não mais os entraves feudais ou monárquicos, mas o estado do bem-estar, a legislação trabalhista e as medidas protecionistas adotadas por alguns países do terceiro-mundo. No final dos anos 70, Margareth Thatcher, na Inglaterra e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, põe uma pá de cal nas idéias intervencionistas de Keynes e no consenso aludido por Galbraith. Quanto ao último, basta lembrarmos a afirmação de Thatcher sobre as dificuldades financeiras dos países em desenvolvimento: “… se não têm dinheiro para pagar suas dívidas, entreguem seus territórios”.
Desde então até o final do século XX, assistimos ao triunfo da ideologia liberal que se assume como pensamento único, sem contestação. Um de seus arautos, Francis Fukuyama, chega a falar em fim da história. Para ele, não havendo possibilidade de contradição, não há a de mudanças na estrutura social.
O debate de idéias empobrece ainda mais, resvala a indigência e procura algum lugar vago sob os viadutos. Ou nas sarjetas.
Mesmo entre socialistas, ocorreu enorme perplexidade depois da queda do muro de Berlim, do avanço da globalização e da apologia ao neoliberalismo. Muitos perderam o interesse ou até se arrependeram dos “arroubos de juventude”. Entre os demais reina um saudosismo paralisante. Ainda que, todavia, chovam teses sobre os efeitos maléficos da globalização.
Acrescente-se que, num período imediatamente anterior, as ditaduras militares, que proliferaram pela América Latina, haviam aproximado os marxistas dos liberais de extração democrática. Era-lhes comum a condenação do Estado autoritário, excessivamente centralizado e burocrático, bem como a defesa do Estado de Direito e da segurança jurídica, e a exaltação da sociedade civil – e, conseqüentemente do mercado – como locus mais oxigenado de liberdade. Enfim, teses que se mostrariam bastante adequadas como premissas da pregação neoliberal que viria a seguir.
Como pano de fundo, mas não menos importante, assiste-se aos primeiros sintomas do desemprego estrutural com conseqüências as mais perversas para os trabalhadores de qualquer extrato.
É nesse imbróglio de problemas e perplexidades que Antonio Rezk cria o Movimento Humanismo e Democracia e propõe estudos e debates sob novas bases conceituais. Não por acaso, o primeiro livro do grupo chamar-se-ia “A revolução tecnológica e os novos paradigmas da sociedade” (São Paulo, IPSO, 1994). Para o MHD – depois MHD-Ruptura, o desemprego que se assistia não era resultante apenas da recessão econômica. Veio para ficar, resultado que é da aplicação mais intensiva da tecnologia na produção. A retomada do crescimento não significaria o fim do desemprego.
Além de mudanças substanciais na qualidade do emprego – para pior na maioria dos casos – seu número total seria decrescente. A diminuição da classe trabalhadora enfraqueceria seu poder de barganha, sindicatos à frente.
As pessoas arraigadas a seus valores tradicionais rejeitam tudo o que vai de encontro a eles. Quantas vezes, Rezk e eu, atuando em Congressos de Sociólogos, fomos acusados de sermos contra os sindicatos, quando apenas constatávamos seu iminente enfraquecimento.
Numa sociedade onde emprego é condição de cidadania, seu contraponto, o desemprego, passa a ser o principal responsável pelo aumento da exclusão social. E fonte de problemas intra-familiares, inter-individuais e individuais. Pesquisas e depoimentos dão conta de que o desempregado sente-se culpado e tem queda significativa em sua auto-estima por ter perdido o emprego ou por não consegui-lo.
A partir destas constatações, ainda relativamente simples, Rezk vai muito mais longe. Num primeiro momento, pesquisa exaustivamente tudo que diz respeito a: o impacto da tecnologia no mundo do trabalho; o aumento da produtividade individual e conseqüentemente da mais-valia relativa; o desemprego estrutural; suas conseqüências sociais e individuais já apontadas; a previsível crise da “civilização do trabalho”; e a resultante anomia provocada pela ausência de normas e valores mais consentâneos com as novas realidades.
Em seguida, faz um mergulho profundo e simultâneo na História (dos fatos e das idéias) e na Psicanálise para, enfim, oferecer-nos esta abrangente obra de Antropologia Política, conforme conceituação utilizada por Fábio Lucas no prefácio do livro anterior de Rezk (A Revolução do Homem – São Paulo, Textonovo, 2002).
Aqui reside outra característica do pensamento rezkiano: na busca da verdade, a postura é radicalmente teleológica e, por isso, ampla, supra-disciplinar. Lembra Espártaco, quando, prestes a conquistar Roma e sua famosa biblioteca, perguntado sobre que livros gostaria de ler, respondeu: todos.
Rezk não se subordina às especialidades impostas pela divisão acadêmica do saber que tende à ultra-especialização. Vale dizer, ao final, à fragmentação do pensamento. Esta tem sido um dos maiores entraves a novas concepções totalizantes das relações sociais e sua dinâmica. Tem a ver com a mixórdia, já apontada aqui, em que chafurda a maior parte da produção acadêmica.
Livre destas e de outras peias, o autor deste livro, na busca de seu intento, nutre-se de toda a informação que lhe pareça adequada, seja ela proveniente desta ou daquela disciplina. Assim, se por um lado, ele nos oferece a visão totalizante que o leitor vai deslindar neste trabalho, por outro, arrisca-se a um dificultoso acolhimento pelo meio acadêmico. Este dominado pela visão multifacetada imposta pelos senhores feudais das disciplinas cujos limites estão rigorosamente demarcados.
Da mesma forma, Rezk não separa a busca do conhecimento da militância política. Filia-se metodologicamente ao proposto por Marx em suas Teses sobre Feuerbach, sintetizadas na sentença: Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; a questão é transformá-lo. Rezk, advindo de atuação política múltipla e intensa percorre o caminho inverso dos filósofos criticados por Marx. Este livro, como os anteriores, são também sínteses das experiências práticas e investigativas de Antonio Rezk.
O político e o pensador são faces da mesma moeda. A trajetória pública de Rezk, mais conhecida e reconhecida, vale aqui ser lembrada suscintamente.
Desde os anos sessenta, quando o Brasil ainda vivia sob o regime autoritário, comunistas, socialistas e democratas de todos os matizes abrigavam-se sob o amplo guarda-chuva do MDB – Movimento Democrático Brasileiro.
A participação política extremamente limitada, com partidos reduzidos a dois e bastante controlados pelo regime, levaria alguns opositores a concentrarem seus esforços no movimento comunitário. A luta de resistência envolveria a população a partir de suas carências mais imediatas: escolas, creches, postos de saúde, transportes, infra-estrutura urbana. Em São Paulo proliferam as sociedades amigos de bairro. Rezk à frente, organizaria quase uma centena delas e o processo culminaria com os Conselhos Municipal e Estadual dessas sociedades, fundados e dirigidos por ele.
Ao movimento se juntariam urbanistas de renome, além de líderes comunitários e políticos. O guerreiro da cidade é também seu pensador e poeta. Em livro urdido à época, mas publicado apenas em 1986, Rezk sentencia:

“… e a cidade deve ser bela. Portanto, deve ser boa. Deve ser justa. A beleza é sempre produto de um justo equilíbrio, da correta composição das cores, dos sons, da luz, de movimento e de liberdade. Esta é a cidade que eu idealizo: profundamente humana e socialmente justa. Rica: socialmente rica”. (Rezk – Cidade, Novos Rumos, SP, 1986).

É justo enfatizar que o movimento tinha dois objetivos: um ostensivo, o referente à melhoria das condições de vida dos bairros mais carentes de São Paulo; e outro, quase clandestino, de, através destas organizações populares, formar uma frente ampla de resistência à ditadura e de luta por direitos humanos e sociais. Na liderança do processo, Antonio Rezk é eleito suplente de vereador em 1972, assumindo o cargo durante aquela legislatura. Sua atuação abrange agora a esfera política mais ampla. Seu papel será o de costurar alianças na busca também do segundo dos objetivos apontados. Afinal, era o líder mais expressivo do clandestino Partido Comunista Brasileiro na capital paulista. Foi reeleito em 1975. No ano seguinte foi escolhido pela Associação dos Jornalistas Credenciados da Câmara como o vereador mais atuante.
Eleito deputado estadual em 1978, exerceu dois mandatos consecutivos (1979 a 1986). Sua luta continua e inclui a defesa dos presos políticos e dos oprimidos em geral, o Estado de direito, as liberdades democráticas, anistia, eleições diretas. O guerreiro incansável participa de todas as frentes de luta representando, segundo seu ex-colega, Aluysio Nunes, o “ponto de encontro dos demais parlamentares da oposição autêntica”, a saber, aquele que entre os pares, dirimia as dúvidas, arbitrava democraticamente as divergências, apontava caminhos. Paciência de Jó, sabedoria de Salomão, além da bravura de Aquiles, em reuniões que varavam noites e fins de semana, Antônio Rezk revela-se ao mesmo tempo o líder humilde, o colega fraterno, o amigo solidário, o homem generoso, mas também o guerreiro que não teme falar duro com autoridades civis e militares. Honrava como poucos o mandato que o povo lhe conferira.

Poucos lembram, mas foi em seu automóvel que Luiz Inácio Lula da Silva fugiu ao cerco que a polícia política lhe montara durante a greve dos metalúrgicos em São Bernardo.
Nos anos que se seguiram Rezk teve participação decisiva na coordenação do movimento pelas Diretas-Já e, logo depois, na articulação da candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República pelo Colégio Eleitoral. As frentes de luta não foram substituídas; acumularam-se. Com a mesma desenvoltura, Rezk transita entre Brasília, Rio, Belo Horizonte e as favelas de São Paulo; entre ministros da Nova República e dirigentes comunitários.
Com a conquista da liberdade de organização partidária, Rezk teve atuação destacada na organização do Partido Comunista Brasileiro, PCB, tendo sido membro do diretório nacional e presidente do estadual.
Era também época da Glasnost e da Perestroika. Com o anti-sovietismo daí resultante, e tendo um charmoso PT à sua esquerda, pelo menos midiaticamente, o “partidão” se isolava em miríades de discussões estéreis. O preço seria a derrota eleitoral de seus parlamentares, Goldman e Rezk em São Paulo, apesar das expressivas votações individuais dos mesmos.
Rezk resiste, acreditava que ainda havia espaço para um partido de cunho marxista e programaticamente identificado com as camadas populares. Procurando, no debate teórico e na prática política, a difícil identidade que o distinguisse dos demais partidos de esquerda que proliferavam no período, o PCB amargaria mais derrotas até transformar-se em PPS.
O guerreiro continuará lutando, mas o pensador percebe que o destino político de qualquer partido nas democracias incipientes enfrenta o mesmo dilema: radicaliza o discurso para manter a identidade, mesmo ao custo de não contribuir para o desenvolvimento político do país; ou dialoga, faz concessões e, de alguma forma, cresce e contribui. Mas o faz abrindo mão de alguns pontos programáticos, correndo o risco da descaracterização. Hoje se percebe que todos os partidos – se quiserem ser mais que meros denunciantes das mazelas do sistema – estão sujeitos às mesmas vicissitudes. E, quanto mais intensa e duradoura a fase denuncista, mais decepcionante a pragmatização descaracterizadora.
Essas e outras constatações – como a crescente mercantilização da política partidária – levariam Rezk a concentrar-se mais nos estudos sobre aspectos essenciais da sociedade contemporânea. Em 1992, funda o MHD – Movimento Humanismo e Democracia e, logo depois, o IPSO – Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos, com o objetivo de estudar essas questões e outras relacionadas a ela.
Dos estudos e debates resultam o manifesto do MHD e a coletânea Revolução tecnológica e os novos paradigmas da sociedade (IPSO/Oficina de Livros, Belo Horizonte, 1994), este com prefácio de Fábio Lucas e artigos de Antonio Rezk, Carlos Seabra, Sérgio Storch, Levi B. Ferrari, Ladislau Dowbor e Paulo R. Feldmann. No ano seguinte seriam lançados os Cadernos MHD em edição mimeografada.
Tais documentos, vistos de hoje, podem ser considerados demasiadamente heterogêneos, mas não se pode negar seu pioneirismo. Outros pesquisadores, mais ligados à universidade, se preocupariam com as mesmas questões muito depois. Nota-se nos documentos a busca da compreensão das transformações sociais e caracterização da nova sociedade com instrumentos de análise igualmente novos. O Manifesto do MHD chega a ser contundente e, para muitos, demasiadamente ousado, quando afirma:

“… estamos convencidos de que os dois paradigmas “clássicos” que vinham sendo usados para se estudar e analisar a sociedade moderna, como também para apresentar as soluções para os seus grandes problemas – o “marxista-leninista” e o “neoliberal” –, estão falidos e não respondem mais às exigências dos novos tempos e das novas realidades.”.

Com mais afinco que os demais “humanistas”, Rezk segue com suas pesquisas, palestras, debates e publicações aperfeiçoando os conceitos acima delineados. Para ele, o marxismo, a mais avançada explicação do capitalismo, encontrava suas limitações numa visão centrada na Europa e num determinado estágio do sistema. Isso teria levado o grande pensador alemão e a maioria de seus seguidores ao elogio da expansão mundial do capital na certeza de que a mesma pavimentaria o caminho para o socialismo. Assim, o marxismo, como os demais sistemas explicativos, estaria circunscrito à civilização do trabalho, a ser superada pela do conhecimento, como veremos no transcorrer desta obra.
Para provar suas teses, Rezk revisita a História e questiona a primazia da luta de classes como motor da mesma. Na melhor das hipóteses, ela estaria no mesmo patamar da luta entre clãs, etnias, Cidades-Estado, Impérios, Estados nacionais. Conseqüentemente, são múltiplos os fatores que explicam as grandes transformações sócio-históricas. É o primado do conhecimento que dá forma aos sistemas de dominação e suas mudanças, uma vez que, em muitos casos, é anterior e determinante em relação ao avanço das forças produtivas. Os povos mais desenvolvidos cientifica e tecnologicamente também haverão de impor-se econômica e militarmente sobre os demais.
A questão, cara ao marxismo, de que as condições materiais de subsistência condicionam as relações sociais, os valores, as instituições, numa palavra, a cultura imaterial, não será negada por Rezk. Mas se transforma para ele num dilema como aquele do que veio antes, se o ovo ou a galinha. A partir de alguma indefinível gênese, o conhecimento, para Rezk, passa a ter desenvolvimento autônomo, e, ainda que umbilicalmente ligado ao desenvolvimento material da sociedade, terá precedência sobre o último, exercendo, pois, maior influência na dinâmica social.
Dentro de cada sociedade, será a apropriação do conhecimento o fator preponderante da estratificação social. Na antiga China imperial, por exemplo, apenas os filhos dos mandarins podiam aprender a ler e escrever, forma de manter o domínio deste segmento sobre os demais.
Se a apropriação restrita do conhecimento é fator causal de dominação, apenas a socialização do mesmo pode ser libertadora. A partir deste axioma, Rezk propõe a sociedade humanista, aquela na qual o saber é igualmente acessível a todos através de processos sociais como a educação e a informação, entre outros.
Tais conceitos, aqui por demais resumidos, estão melhor explanados neste livro, bem como no anterior A Revolução do Homem e, ainda, em muitos artigos.
Cabe lembrar que, com a mesma paixão que se dedicou a pesquisas de antropologia política, Rezk entregou-se ao estudo das questões nacionais, desde as relações entre países centrais e periféricos até ao atual sistema imperial, com destaque tanto para as vulnerabilidades quanto as possibilidades da nação brasileira.
Em tempos do apogeu da ideologia neoliberal entre nós, alardeada à exaustão por uma mídia comprometida com os interesses ligados à abertura dos mercados e às privatizações que ocorriam, irresponsavelmente, a cada semana, Rezk e o MHD lançam seu Manifesto e realizam dois “Encontros sobre a Causa Nacional” em São Paulo (1997) e Campinas (1998). Deles resultaram duas coletâneas: A Causa Nacional (Ed. Senac, SP, 1998) com artigos de Adriano Amaral, Antonio Rezk, Darc Costa, Fabio Lucas, Levi Bucalem Ferrari, Luiz Gonzaga Belluzzo, Luiz Toledo Machado Marcos Del Roio, Nilson A. de Souza, Paula Beiguelman e Sérgio Xavier Ferolla; e A Guerra do Brasil (Textonovo, SP, 2000) com novos artigos dos autores já citados e ainda: Adalto Barreiros, Fernando C. de Sá e Benevides, Geraldo L. Nery da Silva, Nelsimar Moura Vandelli e Williams Gonçalves. Participaram ainda dos encontros outros pesquisadores de renome como João Manoel Cardoso de Mello, Carlos Estevam Martins, Bautista Vidal, Fernando Siqueira e Milton Santos. Foi este último, um dos maiores geógrafos brasileiros de todos os tempos, quem, não conhecendo pessoalmente Antônio Rezk até então, afirmou que comparecera ao debate por que fora convidado por ele, “pessoa cujo nome sempre lhe merecera a maior admiração.”
Nesses livros e encontros, os autores discutem, através de visões e ênfases diversas, as causas da dependência econômica e cultural e da vulnerabilidade estratégica do Brasil em relação ao sistema mundial de dominação. Apontam-se as alternativas para um desenvolvimento autônomo com maior distribuição da riqueza, bem como medidas para a reconstrução de um Estado Brasileiro livre e soberano.
Logo depois, através do IPSO, Rezk dedicou-se também a projetos que visavam à integração da América do Sul. Coordenou eventos supranacionais de militantes e intelectuais do subcontinente em trabalhos que enfatizavam a integração dos movimentos sociais e culturais atuantes na região.
Aqui concluo o retrato sucinto da gênese e das contingências de onde emerge a contribuição elaborada e inovadora de Antonio Rezk ao pensamento psicossocial e político. E expressas neste livro, através de um humanismo renovado e indispensável ao entendimento de nossa era e suas tendências. Não há no livro receitas simples, mas um diagnóstico profundo e o apontar de caminhos que devem levar a humanidade à auto-emancipação e a patamares mais avançados de civiliza

Levi Bucalem Ferrari
São Paulo, 03 de outubro de 2010.

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De Rousseau a Gramsci

Antonio Carlos Mazzeo

De Rousseau a Gramsci – Carlos Nelson Coutinho
(Boitempo, 2011)

Após anos sem publicar livros de sua autoria, Carlos Nelson Coutinho, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de obras fundamentais sobre teoria política, estreia na Boitempo Editorial com a coletânea De Rousseau a Gramsci: ensaios de teoria política. Um dos mais reconhecidos estudiosos marxistas do Brasil, Coutinho consagrou-se por traduzir e difundir o pensamento de György Lukács e Antonio Gramsci no país.

Nesta nova empreitada intelectual, o autor aponta as potencialidades transformadoras e os dilemas de fenômenos políticos, como a democracia, pelo pensamento de Rousseau, Hegel, Marx e Gramsci, além de aprofundar o compromisso entre reflexão e ação que caracteriza as suas obras. Para ele é preciso confrontar e superar a ideia de democracia como um simples jogo competitivo pelo poder político. “O maior elogio que eu poderia fazer a este livro é que ele nos obriga a refletir sobre a baixa intensidade do atual regime democrático brasileiro e nos convoca para uma tarefa a um só tempo teórica e política: indagar os limites da ordem presente”, afirma Ruy Braga, professor de Sociologia da Universidade de São Paulo.

Diante do atual cenário brasileiro, o autor recupera uma importante reflexão de Gramsci sobre duas práticas políticas, acrescentando ainda um paralelo: enquanto a teoria política se ocupa da “grande política”, ou seja, da luta pela destruição, pela defesa ou pela conservação de determinadas estruturas orgânicas econômico-sociais; a “ciência política” tem como objeto questões da “pequena política”, que compreende as questões parciais e cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura já estabelecida em decorrência de lutas pela predominância entre as diversas frações de uma mesma classe política.

O livro apresenta uma defesa consistente da teoria política, considerada uma disciplina filosófica, contra a chamada “ciência política”, que compartimenta o saber. “A teoria política não hesita em ligar a esfera da política à totalidade social e considera parte ineliminável do seu domínio teórico também os temas hoje considerados ‘sociológicos’, ‘econômicos’, ‘antropológicos’ e ‘históricos’”, afirma o autor. “A teoria política também não tem a pretensão durkheimiana de tratar os fenômenos políticos como ‘coisas’ semelhantes aos objetos naturais; ao contrário, pretende compreendê-los como processos dinâmicos determinados pela práxis, situados no devir histórico e que, por isso, têm sua gênese no passado e apontam para o futuro”.

Relacionando a teoria política com a ética, com juízos de valor e com a ideologia, no sentido gramsciano de “estímulo para uma ação efetiva no mundo real”, Coutinho segue fiel à síntese de Marx de que não basta entender o mundo, trata-se também de transformá-lo.

Trechos do livro

“Não é difícil constatar que os autores tratados neste livro (Rousseau, Hegel, Marx, Gramsci) são teóricos da política e não cientistas políticos. Nesse sentido, eles fazem parte de uma tradição que começa em Platão e chega até Hannah Arendt e John Rawls, passando por Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu e tantos outros. Nenhum desses autores se sentiria à vontade se tivesse de responder, num currículo solicitado hoje por uma agência financiadora, a que campo das chamadas ‘ciências sociais’ pertenceriam. Platão era filósofo ou cientista político? Montesquieu era sociólogo ou historiador? Rousseau era pedagogo ou linguista? Marx era economista ou crítico literário? A simples formulação de tais questões revela quanto a atual divisão departamental do saber acadêmico é incapaz de dar conta da atividade dos grandes pensadores e, portanto, também dos grandes teóricos da política.”

“Com efeito, ao mostrar que filosofia é também uma ideologia, Gramsci define esta última como ‘unidade de fé entre uma concepção do mundo e uma norma de conduta adequada a ela […]. É por isso, portanto, que não se pode separar a filosofia da política; ao contrário, pode-se demonstrar que a escolha e a crítica de uma concepção do mundo são, também elas, fatos políticos’ (Cadernos do cárcere, v. 1). No mesmo sentido, Lukács define a ideologia como algo que transcende o nível epistemológico e se liga diretamente à ação prática.”

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Instantâneos de longa duração

Levi Bucalem Ferrari

Resenha do Livro: Noronha Goyos Júnior, Durval – O crepúsculo do império e a aurora da China – São Paulo, Observador Legal Editora, 2012.
Palavras chave: Relações Internacionais, Política econômica, Políticas públicas, Brasil, China, Estados Unidos, imperialismo, crise, Noronha, Moniz Bandeira.

O bom fotógrafo procura ângulos, perspectivas, contrastes, o melhor momento para fazer a foto; usa filtros, ensaia aberturas e velocidades, combina, altera, recompõe todas estas coisas até a exaustão.
Prá que tudo isso? Olha, clica e pronto!
O que os incautos não sabem é que, para além da beleza da foto, este fotógrafo tem, lá no seu íntimo, a pretensão de que ela represente todo um quadro de conceito e estética vigente no seu tempo, no seu mundo. A foto deverá ser uma síntese de muitas outras fotos e, por que não, projetar-se para a posteridade, propor-se a decifração dos sinais das mudanças e do futuro que anunciam.
Foi esta a sensação que experimentei ao ler O crepúsculo do império e a aurora da China, de Durval de Noronha Goyos Jr. (Observador Legal Editora, São Paulo, 2012). Análises conjunturais a se projetarem como instantâneos das mudanças histórico-estruturais que o mundo exibe para o analista atento e, principalmente, munido de metodologia e visão de mundo coerentes.
São artigos de tamanho pequeno, publicados entre 2009 e 2011 em jornais, revistas e internet, e republicados várias vezes. Constituem-se em análises sobre questões específicas que perpassam desde as relações internacionais até aspectos singularíssimos e momentâneos da política econômica e social do Brasil, China, Estados Unidos e outros países. Mas, insisto, todos a guardarem entre si a coerência e profundidade que apontam para as grandes mudanças macro-econômicas.
Se Noronha impressiona antes por esta característica indispensável, convém acrescentar mais duas, entre outras tantas: o volume de dados e a independência do autor.
Assim, nenhuma afirmação de Noronha se perde no vazio, sendo, ao contrário, comprovada por dados dispostos de forma a comprovar e ilustrar sem que o leitor se perca neles ou se canse. Não, tudo na medida certa.
Por outro lado, o autor exibe coragem e independência ímpares quando denúncia os engodos do mito neoliberal e sua permanência até entre países que retoricamente propõe-se a superar esta famigerada ideologia. Aqui se incluem alguns países europeus a colocarem por terra conquistas históricas em direitos sociais. Como também o próprio Brasil. Para combater a inflação, deixa sua moeda valorizar-se artificialmente a custa da evidente desindustrialização. Mantemos também juros altíssimos associados a um espread insano que só interessa a bancos e especuladores. Assim, o país retrocede e deixa crescer a “bolha” que pode estourar a qualquer momento com consequências sociais de grande monta.
Mesmo as medidas tomadas pelo governo após a publicação deste livro – como o rebaixamento dos juros do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal – queremos crer, pareceriam a Noronha corretas, mas insuficientes.
Todo este imbroglio tem suas entranhas destrinchadas e muito bem explicadas no livro de Noronha, o que o transformam em documento para ser lido e consultado.
Por fim, o livro vem enriquecido pelo prefácio de Luiz Alberto Moniz Bandeira, Intelectual do Ano pela UBE – União Brasileira de Escritores e um dos maiores cientistas políticos contemporâneos. É ele quem afirma na contracapa do livro:
“Trata-se de um conjunto de artigos importantes e oportunos, porquanto apresenta uma lúcida percepção das mudanças na correlação mundial de forças, demonstrando a erosão que corrói o Império Americano, à beira da recessão e cuja segurança depende cada vez mais do poder militar, a um custo insustentável, em contraste com o alvorecer da China, a crescer 9,5% em 2011”… ”não obstante a profunda crise econômico e financeira na qual Estados Unidos e União Européia estão submersos.”

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Aziz Ab’Saber é o favorito para o Juca Pato 2011

O grande mestre das Ciências da Terra enriquece a galeria dos laureados de um dos mais tradicionais prêmios brasileiros

Imagem ilustrativa 30.06.2011
A União Brasileira de Escritores (UBE) encerrou ontem (30) as inscrições do Prêmio Intelectual do Ano com a indicação do professor Aziz Ab’Saber para receber o Troféu Juca Pato 2011. Ele foi escolhido por 30 associados da UBE, entre eles, Cláudio Willer, Fábio Lucas, Frei Betto, Levi Bucalem Ferrari, Marisa Lajolo e Antonio Candido – vencedor do prêmio em 2008.
“Convidamos as dez seccionais e os nove núcleos da UBE a indicar candidatos. Mas o nome de Aziz Ab’Saber é tão digno dessa homenagem que todos decidiram apoiar a indicação da UBE nacional, que é a de São Paulo. Um sinal do acerto da nossa escolha”, comemorou o jornalista e escritor Joaquim Maria Botelho, presidente da entidade. Agora, segundo o regulamento do concurso, a escolha do professor Aziz Ab’Saber deverá ser sacramentada em votação nacional, até 15 de agosto, pelos associados da UBE.
O Troféu Juca Pato 2011 ao ganhador do Prêmio Intelectual do Ano será entregue na solenidade de encerramento do Congresso Brasileiro de Escritores que a UBE vai realizar, de 12 a 15 de novembro, em Ribeirão Preto.

O candidato
Em 2012 o Juca Pato comemora 50 anos. O prêmio- que neste ano tem o apoio da TV Cultura – foi criado em 1962 por iniciativa do escritor Marcos Rey (1925/1999) como homenagem a intelectual ou personalidade pública que, no ano anterior, tenha publicado livro de repercussão nacional e contribuído para o desenvolvimento e o prestígio do pais.
No ano passado, o professor Aziz Ab’Saber publicou “Leituras indispensáveis 2”, pela Ateliê Editorial, coletânea de 15 textos que esboçam um panorama multifacetado do planeta e debatem várias questões importantes e atuais, do aquecimento global à cultura indígena.
Filho de pai libanês e mãe brasileira, Aziz Nacib Ab’Saber é paulista de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, onde nasceu em 24 de outubro de 1924. Geógrafo, é professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, foi presidente do SBPC. Concebeu teorias e projetos inovadores relativos à geografia brasileira, contribuindo para a compreensão e preservação do nosso meio ambiente. Ganhou, em 1998, o Prêmio Santista, o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, oferecido pelo CNPq e o Prêmio Internacional de Ecologia. Em 2001, recebeu o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente.

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