Ucrânia: Banho de sangue em Kiev

Levi Bucalem Ferrari

Nesta manhã de 21/2/2014, caí da cama às 6 horas e,depois do café, saio prá comprar um jornal e vejo estampada na capa de “O Globo” a manchete: “Ucrânia sofre sanções após massacre nas ruas” seguida pelo sub-título “Número de mortos em confrontos na capital varia entre 47 e 70 só ontem.” Asustado com o banho de sangue compro o jornal (o que nem sempre faço pois estou ciente de de sua “qualidade” e “neutralidade”, ambas sofríveis e/ou manipuladoras.

Incontinenti, penso no número de mortes violentas na cidade onde dormi tão pouco tempo, cerca de quatro horas. Não é irreal que nosso número pode ter se igualado ou mesmo superado os de Kiev. Se somarmos São Paulo e outras grandes cidades tidas como mais violentes, os ucranianos perdem longe.

Segundo levantamentos realizados entre 2000 e 2010, publicados no mesmo “O Globo” em 06 de março de 2013, A taxa média de homicídios foi em 2010 de 20,4 por 1.000 habitantes. Se considerarmos que nossa população tem por volta de 200 milhões de habitantes é de se supor que só naquele ano foram assassinadas 40.800 pessoas. Se acrescentarmos outras mortes violentas, como as de trânsito, p. ex. é possível que o número dobre. Se considerarmos ainda como violência, fenômenos como sub-nutrição, falta de sanemento básico, precariedade da saúde pública e de assistência médica chegaremos a números astronômicos, de fazer inveja aos ucranianos. E, por outro lado, se estendermos a “performance” brasileira por, digamos, 2 ou 3 anos, é quase certo que deixaremos na 2a. divisão a maioria dos países que estão há muito tempo em guerra civil aberta.

Mas quanto a disputa entre Brasil e Ucrânia, prefiro que ocorra apenas na Copa do Mundo – se houver coincidências. E, até aí ainda devemos ganhar.

Brincadeiras a parte, esclareço que qualquer banho de sangue será sempre abominável. Como não pretendo falar de Brasil, mas de Ucrânia, é preciso termos mais informações sobre o que ocorre naquele país.

Parte da resposta está no mesmo jornal num editorial publicado à página 20 com o título “Putin é a chave para deter tragédia na Ucrânia”. Aqui se expõe que a causa imediata dos conflitos estaria na supensão “intempestiva” feita pelo presidenten Yanukovych entre um acordo cmercial com a UE em troca de proposta russa de compra de US 15 milhões em títulos da dívida ucraniana e o fornecimento de gás a preços subsidiados.

Continua o editorial a afirmar que “o acordo com a UE dava esperanças à população, principalmente aos jovens desejosos de melhorar a qualidade de vida no país”. Há ainda menções a uma longa e acirrada disputa geo-política entre Rússia de um lado e potências ocidentais de outro, por um dos países mais ricos da ex- União Soviética.

Sem citar números ou percentagens, o Editorial abre, contudo, alguma brecha interpretativa ao afirmar que uma guerra civil na Ucrânia torna-se mais factívl se considerarmos que o país já está divido entre pró-russos e pró-ocidentais.

Ora, como não há números não poderemos saber quanto estão de um lado e quantos de outro. E nem se os manifestantes de Kiev, representam a maioria da população ucraniana.

Lamentando sempre os mortos e feridos de ontem, devo todavia lembrar dos alertas já fornecidos pelo Professor Moniz Bandeira, Intlectual do Ano pela União Brasielira de Escritores – UBE, candidato a Prêmio Nobel de Literatura pela mesma UBE e pela Academia Mineira de Letras e autor do recente “A segunda Guerra Fria” (Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2013).Em entrevista ao portal “Carta Maior” em 21 p.p. depois de apontar uma “aliança entre ONG´s ocidentais e neonazistas na Ucrânia” termina por afirmar que:

“…logo após os atentados contra as torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush (2001-2009), ao mesmo tempo em que deflagrou a War on Terror, a guerra sem fim, estabeleceu a “freedom agenda” e autorizou o Departamento de Estado a criar a Middle East Partnership Initiative (MEPI) com o propósito de treinar ativistas político, com base no From Dictatorship to Democracy, do professor Gene Sharp, usado na Sérvia, na Ucrânia, na Geórgia e em outros países.

“O objetivo era treinar e encorajar dissidentes e “reformistas democráticos!, sob os “regimes repressivos” no Irã, na Síria, na Coreia do Norte e na Venezuela, entre muitos outros, a solapar a estabilidade e a força econômica, política e militar de um Estado sem recorrer ao uso da insurreição armada ou de golpe militar, mas provocando violentas medidas, a serem denunciadas como emprego de força brutal, abuso dos direitos humanos etc. e provocar o descrédito do governo. A estratégia do professor Gene Sharp consiste na luta não violenta, porém complexa, travada por vários meios, como protestos, greves, não cooperação, deslealdade, boicotes, marchas, desfiles de automóveis, procissões etc., em meio à guerra psicológica, social, econômica e política, visando à subversão da ordem. Ela serviu para promover as chamadas “revoluções coloridas”, na Eurásia, e a “primavera árabe”, na África do Norte e Oriente Médio. E ONGs, finaciadas pela Now Endowment for Democracia (NED), USAID e CIA e outras instituições públicas e privadas, foram e são nada menos que a mão invisível Washington.

“Daí a secretária de Estado Assistente, Victoria Nuland, ter declarado na conversa com o embaixador Geoffrey Pyatt que, nas duas últimas décadas, os Estados Unidos gastaram US$ 5 bilhões para a “democratização” da Ucrânia, i. e., para subverter os regimes, cortar seus laços históricos com a Rússia e integrá-lo na sua esfera de influência, via União Européia. Victoria Nuland é esposa de Robert Kagan, líder dos neoconservadores (neo-cons) do ex-presidente George W. Bush, cujo papel como “universal soldier”, o presidente Barack Obama passou a desempenhar.”

Sobre levi

Poeta, ficcionista, ensaísta, sociólogo e professor universitário. Presidente da UBE - União Brasileira de Escritores, diretor do Sindicato dos Sociólogos de S. Paulo e Presidente do IPSO - Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos. Integra a Coordenação do Movimento Humanismo e Democracia e o Conselho de Redação da Revista Novos Rumos. Foi Presidente da ASESP – Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Administrador Regional de Santana -Tucuruvi (SP). Coordenador da Proteção dos Recursos Naturais do Estado de São Paulo. Livros Publicados: Burocratas e Burocracias (ensaio, SP, Ed. Semente, 1981); Ônibus 307 – Jardim Paraíso (poesia, SP, Muro das Artes, 1983); A Portovelhaca e as Outras (poesia, SP, Paubrasil, 1984). O Seqüestro do Senhor Empresário (romance, SP, Publisher/Limiar, 1998); O Inimigo (contos, Limiar – SP, 2003). Recebeu o Prêmio de Revelação de Autor da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte e outros. Publicou diversos artigos, contos, crônicas, poemas e resenhas literárias em coletâneas, jornais e revistas.
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