Altamir Tojal
Editora Garamond
Faz que não vê marca a estréia literária do jornalista Altamir Tojal. O texto é ágil, quase telegráfico. Frases curtas e a seqüência bem dosada dos capítulos, recheados de suspense, dão ao romance um ritmo tenso. Mas com toques de lirismo e ao som de boa música na esplêndida visão da baía de Guanabara, através de uma janela na Praia de Botafogo.
A trama é de alta voltagem: em tensão, ousadia, risco, terror e medo. No centro dela está a trajetória e o desaparecimento do seu protagonista, o jovem Delano. Personagem sedutor, controvertido, ambicioso, ele passou das contestações juvenis da década de 60 para a luta armada dos anos 70, escapando ileso dos contragolpes da repressão militar, e caindo na clandestinidade.
Delano reaparece mais tarde envolvido no mundo dos altos negócios e prendendo-se às malhas de um sistema inescrupuloso, intrincado, que se agiganta como poder paralelo, a corromper a estrutura do Estado, a ponto de envolvê-lo em sua bem montada teia.
Se, por um lado, a trama se ambienta na era Collor, por outro fica claro que a história continua, atravessando governos, e pondo políticos e empresários num mesmo saco de gatos que atende pelo nome de mercado. Faz que não vê é uma crítica às traições aos ideais de toda uma geração. É também livro que se lê sem piscar.
“Outras Palavras”, programa de literatura de Levi Bucalem Ferrari na Rádio Cultura Brasil.