Célio Turino
Conheci Regina Célia Barbosa nas andanças do Programa Cultura Viva pelo Brasil, na época, ela coordenava o Ponto de Cultura Ideário que realizava ações educativas audiovisuais na cidade de Maceió, em Alagoas.
A entidade realizava outro projeto, de exibição de cinema nas velas das jangadas. Antes de haver estado no local de execução, no contato com as imagens do projeto, era possível visualizar o que estava a acontecer: um cinema que seria o mais luxuoso do Brasil. O projeto anunciava em sua divulgação: o teto feito pelas estrelas do céu; o piso formado pela areia da praia e o ar condicionado, a brisa do mar. Uma proposta despojada e sofisticada ao mesmo tempo. Tocava à alma jangadeira do povo das Alagoas. Assim foi.
Passado quase vinte anos, acompanho Regina Célia à distância, sempre entre projetos, ideias e plantagens a levarem cultura, arte e ecologia como as ondas do mar, que vão e voltam. E um detalhe importante, eu diria o mais importante, ela sempre atenta a compartilhar conhecimentos, experiências, sem guardar para si o que vai aprendendo.
Este livro, Como elaborar projetos culturais é um exemplo disso. Cada detalhe nas etapas de idealização e implementação de um projeto é compartilhado com o leitor e a leitora. Ela, uma escritora atenta, vai deixando pegadas na areia, para que sigam suas pegadas, ou criem as próprias. Um livro que entrega conteúdo, passo a passo, e é poesia, poesia daquelas e daqueles que se entregam ao bem comum. Bem comum, como sabemos, é o bem de todas e de todos, aquilo que de tão grande e belo não se pode vender. Bem comum que é entrega e cuidado. Foi isso que senti ao terminar a leitura da publicação, antes que fosse para a gráfica.
Desejo que leitoras e leitores sintam o livro dessa maneira, e o usem bem, deem corpo às suas ideias, as coloquem em movimento. São as ideias que mudam as realidades, sobretudo aquelas, escrupulosamente imaginadas e implementadas, junto às comunidades e às gentes. Leiam com carinho. Vale a pena lançar as ideias ao vento até que elas pousem em algum lugar em que depositarão suas sementes que um dia irão brotar com força e beleza.
Célio Turino é historiador, escritor e gestor de políticas públicas. Exerceu diversas funções públicas, entre as quais foi Secretário da Cidadania Cultural no Ministério da Cultura (2004/2010), onde foi o idealizador dos Pontos de Cultura, espaços que unem protagonismo cultural e autonomia comunitária, no programa Cultura Viva. É autor de diversos livros, dezenas de ensaios e centenas de artigos, editados no Brasil e no exterior, com tradução para o espanhol e inglês; seu mais recente livro é “Por todos os caminhos – Pontos de Cultura na América Latina” (Edições Sesc São Paulo, 2020).
