Estevão Azevedo
Ed. Terceiro Nome
Nunca o nome do menino, de Estevão Azevedo, lançado pela Editora Terceiro Nome, busca dialogar com obras da tradição literária ocidental, especialmente do século XX, nas quais é representado o rompimento da fronteira que separa as personagens dos livros e seus próprios autores.
Quando colidem essas duas instâncias da literatura, normalmente distantes – de um lado o escritor, com poder de vida e morte sobre sua criação, de outro as personagens, títeres trabalhando cegamente em favor da obra – a narrativa entra em xeque e o leitor é levado a refletir sobre o caráter ficcional de sua própria vida.
André Gide, em Os moedeiros falsos, Miguel de Unamuno, em Névoa, Luigi Pirandello, em Seis Personagens a procura de um autor, e Jorge Luis Borges, em Ficções, utilizaram-se desse “curto-circuito” narrativo na sua arte de contar histórias.
Em Nunca o nome do menino, a personagem principal, uma mulher, nos relata os dias de sua vida que se seguiram ao momento em que ela descobre seu status de personagem de uma ficção que não aprecia e cujo autor despreza.
Em seu labirinto literário, dois tempos distantes de sua vida nos são narrados, duas linhas que se estendem da primeira à última página como serpentes ávidas por devorar o próprio rabo e criar uma narrativa de vertigem, repleta de ciclos e espelhamentos, mas também de sentimentos e paixões.
A linguagem é veloz, ofegante, alucinada, mas rigorosamente precisa e lírica, e nos arrasta por um texto que é mais sobre como as pessoas sentem do que sobre como elas pensam.
“Outras Palavras”, programa de literatura de Levi Bucalem Ferrari na Rádio Cultura Brasil.