Numa casa de cômodos caindo aos pedaços, moram Dona Creuza e seu filho, um rapaz calado e misterioso. Seu pseudônimo é Rato e seu nome jamais será revelado.
Rato é o protagonista e narrador deste romance. É um jovem esquisito, sustentado pela mãe, lavadeira e passadeira, e coabita com tipos bizarros, como bêbados, drogados, lunáticos, marinheiros e aposentados, entre outros moradores.
Rato não trabalha, mas acredita que a literatura ainda vai salvá-lo e tirá-lo dessa realidade inebriante. Ao usar apenas um pseudônimo, Capucho faz de Rato ao mesmo tempo todos e qualquer um.
A máscara encobre o nome de seu protagonista, mas o deixa livre para escancarar sentimentos e descrever detalhes de dor e de prazer. Além disso, a história narrada em primeira pessoa, leva o leitor a sentir certa cumplicidade com Rato.
Com extrema habilidade, Capucho descreve o ambiente, os personagens exóticos e a singeleza da mãe de Rato, que o sustenta e acha isso normal. Conquistado pela narrativa, o leitor se surpreende pela agudeza da percepção de Rato que, em seu restrito universo, percebe seu tempo com uma sensibilidade profunda e cortante.
O final quase feliz do livro deixa uma mensagem otimista a todos que, de alguma forma, sentem-se enredados nas teias do cotidiano, ratos ou não.
“Outras Palavras”, programa de literatura de Levi Bucalem Ferrari na Rádio Cultura Brasil.