Como organizar um cineclube

No documento anexo apresentamos sugestões e orientações objetivas de como organizar um cineclube:

a) aspectos conceituais e legais da organização de um cineclube;
b) como organizar e resolver problemas concretos: programação, divulgação, debate, etc;
c) sustentabilidade da atividade;
d) modelo de estatuto, e
e) como registrar a entidade

Os textos seguintes são de Felipe Macedo e podem ser copiados e divulgados desde que sem finalidade lucrativa e com citação da fonte e autoria.

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Entender Cineclube

Os cineclubes existem desde a segunda década do século passado. Surgiram como uma reação a um cinema “domesticado”, na expressão de Flávia Cesarino Costa, que reprime o pluralismo e a diversidade, esmagando as diferentes expressões audiovisuais em todo o mundo e relegando o público ao papel de platéia passiva, de espectador submisso, de consumidor desprovido de interesses e inteligência, mero objeto e nunca sujeito do processo de comunicação.
O público é o único segmento do processo de comunicação que não está presente nas diversas instâncias de representação da sociedade civil nos órgãos públicos. De fato, no plano acadêmico e institucional, o espectador só começou a ser “descoberto”, reconhecido e estudado como elemento essencial do processo cinematográfico por volta dos anos 70, quando Jauss e Hall enunciaram o óbvio: que os espectadores têm relações diferentes com as obras, dependendo de sua história pessoal, origem de classe, gênero, etc. E que é nessa relação entre a obre e o espectador que o cinema adquire sentido. Até então, o cinema era apenas compreendido em suas relações internas de linguagem – a semiologia – e o público visto como um arquétipo psicanalítico geral.
Até muito recentemente, entender o cinema era pensar apenas a criação e a produção. Também é da mesma época o reconhecimento inicial dos direitos coletivos ou difusos – os commons como muitos dizem atualmente -, entre os quais se inscrevem os direitos do público.
Os cineclubes foram, desde seu início, as únicas instituições que se propunham a representar o público do cinema – atualmente do audiovisual.
Dos cineclubes derivam praticamente todas as instituições que promovem, preservam e defendem os cinemas nacionais, a memória audiovisual, a reflexão crítica e independente, a acessibilidade à informação, à cultura, à arte.
Nos cineclubes surgiram a crítica e a imprensa crítica de cinema, as cinematecas, os festivais de cinema. Em torno dos cineclubes surgiram ou se organizam os cinemas nacionais da maior parte dos países do mundo, nos cineclubes se formam, desde sempre, os maiores nomes da cinematografia mundial. Do movimento do público organizado, o cineclubismo, surgiram as maiores transformações do cinema: desde as vanguardas européias dos anos 20 do século passado, até o Cinema Novo brasileiro, passando pelo Neo- Realismo e pela Nouvelle Vague francesa.

Por que Organizar um Cineclube

O cinema não chega a mais de 90% dos brasileiros, a distribuição audiovisual está segmentada em estratos muito diferenciados de consumo – em que a quase totalidade da população representa os excluídos, os proletários do processo de comunicação: apenas 8% dos municípios brasileiros têm alguma sala de cinema, menos de 10% da população “vão pelo menos uma vez por ano ao cinema”, 5% possuem tevê por assinatura, 10% conseguem acesso à internet…
Reflexo dessa verdadeira ideologia que atribui ao público a mera função de objeto e consumidor de produtos audiovisuais, a idéia de formação de platéias que está presente em grande parte (não todas) das propostas e programas, públicos e privados, de promoção da circulação de filmes, encara o público como uma espécie de conclusão da criação e produção audiovisual. Face à indigência cultural nacional, à inexistência de um modelo econômico que sustente nossa produção cinematográfica – mantida praticamente apenas pelo subsídio público – a “formação de público” aparece como um paliativo para a exclusão sistêmica, um álibi para o fomento da produção a fundo perdido, para as centenas de filmes que praticamente não são exibidos.

Ainda que atenda a essa necessidade, justa aliás, do cinema brasileiro encontrar público, o cineclubismo não se limita nem se enquadra nessa visão. Muito mais que reunir platéia para qualquer produto, os cineclubes pretendem organizar o público para que opine, participe, decida sobre o cinema, sobre o audiovisual em geral, como sujeito principal do processo de comunicação.
O cineclube é uma forma e uma instituição de organização do público, com vistas a assegurar a pluralidade e a democracia na circulação dos bens culturais, no acesso à informação, a cultura, ao conhecimento.

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